Contribuir para a resistência indígena nacional na defesa de seus direitos constitucionais, fortalecendo o protagonismo de movimentos e organizações indígenas em Rondônia e na região Sul do Brasil, é o objetivo do projeto “Moviracá: direito à terra indígena”, lançado oficialmente durante transmissão ao vivo na noite do dia 14 de junho.
Moviracá é fruto da parceria entre o movimento indígena e a Fundação Luterana de Diaconia-Conselho de Missão entre Povos Indígenas (FLD-COMIN), financiado pela União Europeia (UE).
O lançamento foi realizado com participação das lideranças indígenas Braulina Baniwa, da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), Marciely Ayap Tupari, da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR), e Marciano Rodrigues, da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), que apresentaram ao público suas organizações e falaram sobre a presença do movimento indígena nas regiões Sul e Norte do país e a parceria com o projeto de FLD-COMIN. Também esteve presente o representante da Cooperação da Delegação da UE no Brasil, Stefan Agne. A mediação foi feita pela co-fundadora da ANMIGA, Joziléia Jagso Kaingang.
Assista abaixo:
O projeto
“Esse projeto é resultado de um trabalho já de longa data que FLD-COMIN realiza, numa trajetória de caminhada, de parceria e de diálogos com os povos, com as comunidades, com o movimento e as organizações indígenas”, destacou o coordenador de FLD-COMIN, Sandro Luckmann, que lembrou que, em 2022, COMIN celebra seus 40 anos de atuação.
O coordenador também ressaltou os desafios encontrados na elaboração do projeto, em decorrência da pandemia da Covid-19 e, consequentemente, impossibilidade de encontros presenciais e dificuldades de acessibilidade digital de lideranças indígenas. Porém, como o próprio afirmou, “tudo foi superado para a elaboração de um projeto que, de fato, as diferentes representações indígenas se colocaram como gestoras, promotoras e articuladoras para a defesa de seus direitos”.
Entre as realizações de “Moviracá: direito ao território indígena”, estão capacidades fortalecidas de movimentos e organizações indígenas; apoio jurídico ampliado em processos de demarcação de terras indígenas e de impacto de grandes obras para a defesa de territórios indígenas; protagonismo ampliado de mulheres indígenas em ações de defesa dos direitos e territórios; e incidência ecumênica em apoio aos povos indígenas no âmbito internacional.
Ao todo, mais de 500 pessoas estarão envolvidas no projeto e cerca de 11 mil serão beneficiadas, segundo apresentou o coordenador de projetos de FLD-COMIN, Jasom de Oliveira. O projeto tem como grupo-alvo lideranças e representantes de 99 comunidades de 14 povos indígenas, bem como de 15 organizações indígenas da região Sul e do estado de Rondônia.
As comunidades e organizações indígenas se identificam como integrantes dos povos Kaingang (RS), Laklãnõ-Xokleng (SC), Guarani Mbya e Avá (RS/SC/PR), Karo Arara, Tupari, Makurap, Aruá, Kanoé, Kampé, Arikapu, Sakirabiak, Djeoromiti, Dhiajui e Wajuru (RO).
“É uma noite muito emocionante para nós. É inquestionável a importância do apoio e da defesa dos direitos dos povos indígenas, protagonizados por elas e por eles nas suas incidências e resistências”, disse a secretária executiva de FLD-COMIN-CAPA, Cibele Kuss. Falando em luta e esperança, diante do enfrentamento da violência constante sobre as vidas e os territórios indígenas e pela opressão do Estado, Cibele afirmou que “nós celebramos esse projeto porque acreditamos que, sim, outro mundo é possível, e acontece a partir dos povos indígenas”, justiça de gênero e enfrentamento ao racismo.
Identidade visual
A identidade visual “Moviracá: direito à terra indígena” foi construída da representação de um maracá e um mundo, trazendo uma tipografia que lembra grafismos indígenas e elementos marcando a palavra indígena para destacar o protagonismo dos povos. “Moviracá” é movimento – de movimento indígena – e maracá – um instrumento tradicional que está presente na maioria dos povos indígenas, usado tanto na música quanto em rituais, e simboliza a resistência que carrega energia ancestral.
A identidade visual do projeto foi apresentada, durante o lançamento, por Julia Ribeiro, designer e jovem comunicadore, e Daniela Silva Huberty, assessora de comunicação de FLD-COMIN.
Justiça por Bruno e Dom
Logo no começo da transmissão, Joziléia prestou solidariedade ao ocorrido com o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, somando-se às famílias e às organizações indígenas que lutavam ainda nas buscas. Bruno e Dom foram assassinados e seus restos mortais encontrados na quarta-feira (15), após a confissão de um dos envolvidos. A importância do trabalho de ambos foi ressaltada em outros momentos do lançamento, bem como a denúncia pela maior proteção dos povos indígenas no país e suas aliadas e seus aliados.