COM INFORMAÇÕES DO FESTIVAL DE CINEMA E CULTURA INDÍGENA – FECCI
“Ga vī: a voz do barro” recebeu o prêmio Lente Ancestral de Melhor Roteiro, em parceria com o Instituto Alok, no 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI), realizado no Cine Brasília, em Brasília (DF), entre os dias 02 e 11 de dezembro. Gilda Wankyly Kuita e Nyg Kaingang, duas diretoras do filme, receberam o prêmio junto ao pequeno Fágtãn.
“Muito feliz por sermos contemplados, porque esse é o nosso trabalho, de divulgação do nosso jeito de viver, da nossa forma de conhecer o mundo”, afirmou Gilda. Emocionada, Nyg dedicou o prêmio “pras nossas ancestrais, que são as cascas da araucária. Nós somos partes delas”. E lembrou que o cinema também é território indígena.
Segundo o festival, “o filme nos conduz a partir de uma sutileza e destreza para uma atividade que há tempos é milenar, se utilizando de uma linguagem criativa que nos captura para dentro da tela. Este curta de animação, ainda, ressalta o protagonismo feminino que dá outro ponto rico para o filme.” Assista à premiação aqui.
“Ga vī: a voz do barro” é uma animação que conta histórias Kaingang sobre a tradição da cerâmica, barro, território e ancestralidade, a partir das memórias narradas por Gilda e Iracema Gãh Té Nascimento, com imagens e sons captados na Terra Indígena Kaingang Apucaraninha, localizada no norte do Paraná, durante o encontro de mulheres “Ga vī: a voz do barro, conversando com a terra”, em 2021.
O projeto é realizado pelo COMIN, Tela Indígena, Coletivo Juventude Indígena Kaingang Nẽn Ga e Vini Albernaz.
FeCCI 2022
O FeCCI 2022 aconteceu durante 10 dias, com uma intensa programação de exibição de filmes, masterclasses, rodas de conversa e apresentações culturais. Foram exibidos 45 filmes indígenas e de temáticas indígenas, sendo que todos os filmes da Mostra Competitiva e Paralela foram exibidos com legendas LSE, e quatro obras com audiodescrição e libras. Além da mostra presencial, o evento contou com a exibição de filmes online pela plataforma play.innsaei.tv e transmissão ao vivo de debates e cerimônias no Youtube.
O Festival contou com a presença de 20 realizadoras e realizadores dos filmes, que participaram de rodas de conversa com o público e um total de pelo menos 20 etnias representadas em tela e ao vivo. No dia 10, Gilda e Nyg participaram da roda de conversa e contaram sobre a construção de “Ga vī: a voz do barro”.
Gilda lembrou que tudo é espiritual e que o encontro de mulheres realizado na TI Apucaraninha, que resultou no curta-metragem, foi uma busca espiritual com o barro. A kujá – liderança espiritual – também afirmou que essa é uma forma de incentivar e aproximar a juventude com as tradições e a retomada da produção da cerâmica.
“A animação traz, nessa voz da ancestralidade, essa força da luta das mulheres indígenas que estão nos territórios Kaingang fazendo essa frente da defesa da vida, da defesa do meio ambiente como um todo”, completou Nyg. Segundo ela, o conhecimento das mulheres em relação ao barro é capaz de “acordar essa prática que tava adormecida e isso faz com que a gente proteja, cada vez mais, o nosso modo de vida Kaingang.”
Premiação
O último fim de semana do festival contou com a exibição dos dez filmes da Mostra Competitiva, além da cerimônia de premiação, em parceria com o Instituto Alok, ao final do domingo (12).
Os filmes da mostra foram selecionados por uma curadoria composta por cinco mulheres indígenas com vasta experiência na produção de obras audiovisuais: Julie Dorrico, Kujaesage Kaiabi, Olinda Tupinambá, Priscila Tapajowara e Renata Aratykyra.
Já o júri foi composto por Graciela Guarani, Edgar Kanaykõ Xakriabá e Divino Tserewahú, que votaram nas duas premiações do festival: o Prêmio Oficial FeCCI 2022, na categoria Melhor Filme pelo Júri Especializado e o Prêmio Lente Ancestral, em parceria com o Instituto Alok, nas categorias Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia. Além disso, o público também pode votar em seus filmes preferidos de forma presencial e online, na categoria Melhor Filme pelo Júri Popular.