POR COMUNICAÇÃO DO COMIN
Com o tema “Mulheres biomas em defesa da biodiversidade pelas raízes ancestrais”, a III Marcha das Mulheres Indígenas reuniu mais de 8 mil indígenas em Brasília (DF), dos mais de 247 povos indígenas presentes no Brasil, mostrando a força da luta e da ancestralidade das indígenas mulheres dos seis biomas do país. As atividades ocorreram entre os dias 11 e 13 de setembro com uma programação diversificada de grupos de trabalho, plenárias e apresentações culturais.
Organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), a Marcha das Mulheres Indígenas é um momento que transcende fronteiras e une as indígenas mulheres em sua luta por justiça, reconhecimento, igualdade, preservação das culturas indígenas e pelo direito de ocuparem todos os espaços.
“Essas mulheres enfrentaram inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigimos acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas. Lutamos pela proteção da terra e recursos naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo. Defendemos o fim da violência contra as mulheres indígenas, um problema generalizado que tem atormentado nossas comunidades há gerações”, afirmaram as mulheres da ANMIGA.
Na manhã do terceiro e último dia, as mulheres indígenas percorreram as ruas da capital federal, ecoando suas vozes e maracás em mais uma marcha histórica que saiu do Complexo Cultural Funarte, onde estavam acampadas, até a Praça das Bandeiras, no final da Esplanada dos Ministérios. Ao longo do caminho, as mulheres indígenas mostraram seus cantos e rezas e suas pinturas feitas com jenipapo e urucum. Mais do que isso, a marcha foi um momento de denúncia das violências sofridas em seus corpos-territórios.
FLD-COMIN participou da III Marcha das Mulheres Indígenas através da sua assessoria de projetos e de comunicação e foi uma das organizações parceiras da ANMIGA na realização do evento e com transporte para mulheres das regiões Sul e Amazônia através do projeto Moviracá: direito à terra indígena, financiado pela União Europeia, e do projeto com Pão para o Mundo.
Programação
Durante três dias de encontro, as mulheres realizaram várias plenárias, com temáticas como “Reflorestando o Congresso”, com a presença da Bancada do Cocar, “Mulheres água” e “Mulheres Sementes”, com a presença de convidadas internacionais, e “Fortalecimento entre elas e para elas”, que trouxe ao palco, além das mulheres indígenas, mulheres negras e kilombolas que ocupam espaços nos poderes municipais, estaduais, nacionais e internacionais.
A participação de mulheres indígenas de diferentes países, como Jannie Lasimbang (Malásia), Helena Steenkamp (África), Margaret Lomonyang (Uganda), Rosangela Gonzalez (EUA), Julieta Maquera Llanqui (Peru), Jennifer Koinante (Quênia), Tuana Jakicevich (Nova Zelândia), Suscita Chakma (Bangladesh), Maria Danilova (Rússia), Natália Izhenbina (Rússia), Meiliana Yumi (Indonésia), Sônia Marina Gutiérrez Raguay (Guatemala) e Pirita Näkkäjärvi Finlândia, mostra a importância do movimento das mulheres indígenas em uma escala global.
Essa diversidade de participantes destaca a universalidade das questões enfrentadas pelas mulheres indígenas, como o acesso à terra, a violência de gênero, o racismo e a luta pela autonomia e empoderamento. Através da Marcha, essas mulheres tiveram a oportunidade de compartilhar suas histórias, trocar experiências e fortalecer a solidariedade entre os povos indígenas ao redor do mundo.
Durante a programação, também foram debatidas pautas como a emergência climática, biodiversidades, reflorestarmentes, saúde mental e acessibilidade indígena; foi realizado o Tribunal das Ancestralidades e o lançamento da Cartilha de Violência de Gênero construída pela ANMIGA e IPRI; além das noites culturais e o I Festival das Indígenas Mulheres Biomas.
No primeiro dia, mais de 500 mulheres indígenas ocuparam o plenário da Câmara dos Deputados para acompanhar a sessão solene em homenagem à III Marcha. “Estamos aqui para reverter todo o mal que foi feito, para contribuir para a reconstrução do nosso País”, afirmou Joenia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Durante a sessão, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG) protocolou o Projeto de Lei (PL) 4381/2023, que estabelece uma política de combate à violência conta as mulheres indígenas. Defender mulheres indígenas é defender a terra, é defender o planeta”, ressaltou Célia. Esse foi o primeiro PL traduzido em língua indígena na história do parlamento.
No último dia, outro momento histórico e importante foi a mesa de diálogo com as ministras Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, Anielle Franco, da Igualdade Racial, Cida Gonçalvez, das Mulheres, Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, além de representantes do Ministério da Cultura. Na ocasião, foi assinado um conjunto de atos para a implementação de políticas públicas para as mulheres indígenas, com destaque para o acordo de cooperação entre as pastas das ministras Sonia Guajajara e Cida Gonçalvez, visando a prevenção à violência contra as mulheres indígenas e seus territórios.
O maior encontro de mulheres indígenas encerrou, na noite do dia 13, com o show “A Cura Do Mundo Somos Nós”, com artistas indígenas mulheres e convidadas.
Sobre a marcha
A I Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em 2019, reuniu mais de três mil mulheres de todos os biomas em Brasília e teve como tema “Território: nosso corpo, nosso espírito.” A II Marcha mostrou o avanço das mulheres indígenas, reunindo cerca de cinco mil mulheres de 185 povos indígenas presentes no Brasil. A segunda edição foi feita em 2021 e teve como tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”.