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Primeiro ATL Sul em território Guarani reúne mais de 300 indígenas na TI Morro dos Cavalos

Primeiro ATL Sul em território Guarani reúne mais de 300 indígenas na TI Morro dos Cavalos
23 de agosto de 2023 Comunicação FLD

ATL Sul aconteceu na aldeia Itaty, Terra Indígena Morro dos Cavalos (SC), com a presença dos povos Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng. Foto: Yago Kaingang

POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO COMIN

O canto do povo Guarani deu início, na manhã do dia 13 de agosto, à quinta edição do Acampamento Terra Livre Região Sul (ATL Sul), na aldeia Itaty, Terra Indígena Morro dos Cavalos, município de Palhoça (SC). Primeira vez realizado em território Guarani, o acampamento teve como temática “Visibilidade Social dos Direitos Humanos” e sua programação foi realizada até o dia 18 de agosto.

A maior mobilização do movimento indígena da região Sul do país reuniu cerca de 350 indígenas e lideranças dos povos Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng para debater questões emergentes de seus territórios, como a demarcação de terras indígenas, meio ambiente e a defesa dos biomas brasileiros, educação saúde e a luta pela democracia, além de ser um espaço de troca de diversos outros conhecimentos.

Na carta final do ATL Sul, os povos fazem uma série de reivindicações, como a abertura de GTs e andamento dos processos demarcatórios dos povos indígenas da região Sul, a criação de Unidades Descentralizadas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e proteção aos corpos de mulheres e crianças indígenas dentro e fora das comunidades. Leia a carta completa aqui.

O COMIN foi uma das organizações parceiras, com apoio a delegações do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, através do projeto Moviracá: direito à terra indígena, fruto da parceria entre o movimento indígena e FLD-COMIN, financiado pela União Europeia, e do projeto com Pão Para o Mundo; e esteve presente com sua assessoria jurídica, que fez uma fala durante a o momento de apresentação das organizações parceiras.

Além dos debates, acampamento foi um momento de trocas de saberes e apresentações de canto e dança. Foto: Yago Kaingang

Juventude, diversidade e educação

Em quatro dias de atividades, foram realizadas diversas mesas de debate, além de apresentações culturais. No primeiro dia, a juventude indígena ocupou a plenária com a mesa “O papel da juventude na continuidade da luta pelas demarcações de terras”, refletindo a importância da juventude e seu engajamento na luta pela garantia do direito aos territórios indígenas e na preservação das culturas e tradições.

Também foi trazida à tona a discussão sobre os direitos LGBTQIAPN+ e a diversidade dentro das comunidades com a mesa “Diversidade indígena: o corpo como um território político”. As falas ressaltaram como é fundamental promover a inclusão e o respeito em todas as esferas da sociedade.

No segundo dia, a manhã foi de debate sobre “Perspectivas Indígenas sobre a educação e a escola: Ancestralidade, Resistência e projetos de futuro”, um diálogo que se estabeleceu em torno desses três pilares fundamentais. Nas falas, a compreensão da importância do resgate e valorização da ancestralidade indígena, que transmite conhecimentos milenares de geração a geração, e a escola como um espaço que reconheça e valorize essa riqueza cultural e seja capaz de promover inclusão, ouvindo as vozes indígenas.

Juventude esteve presente no 5º ATL Sul e ocupou espaço na plenária. Foto: Kronun Kaingang

Povos contra o marco temporal

A plenária do ATL Sul também foi espaço para se debater sobre a Repercussão Geral e a tese do marco temporal, com a mesa “Análises jurídicas e os impactos Socioculturais aos Povos Indígenas”, realizada na tarde do segundo dia. Participaram os coordenadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) Marciano Rodrigues e Kleber Karipuna, e Eunice Kerexu, secretária do MPI, entre outras lideranças do movimento indígena da região Sul.

A tese do marco temporal é pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) através do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365 e os povos do sul são diretamente afetados pela decisão pois, além de definir o futuro da demarcação das terras indígenas em todo o país, o RE diz respeito a uma ação de reintegração movida pelo governo de Santa Catarina contra o território Ibirama-Laklãnõ, do povo Laklãnõ-Xokleng.

As pessoas que participaram do debate destacaram o contexto da região Sul, tomado pelo racismo contra os povos indígenas e os grandes interesses políticos e econômicos que pretendem se beneficiar com a exploração dos territórios tradicionais. Houve críticas às proposições do ministro Alexandre de Moraes que, em seu voto no julgamento do STF, trouxe novos riscos às demarcações, como a possibilidade de indenização prévia e de compensação de áreas, o que pode levar a invasões e ao aumento de pedidos de reintegrações de posses e remoções forçadas.

Para sensibilizar e mostrar à sociedade que os povos da região Sul estão contra o marco temporal foi realizado, no terceiro dia de atividades, um ato público no Largo da Alfândega, no centro de Florianópolis (SC). Os povos indígenas ocuparam o centro da cidade com suas falas, cantos e danças e seguiram até a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) onde houve um debate sobre o futuro das demarcações e a tese do marco temporal.

Indígenas caminharam pelas ruas centrais de Florianópolis (SC) em ato contra o marco temporal. Foto: Richard Wera Mirim

Saúde e mulheres indígenas

O quarto dia de acampamento começou com a mesa “Sesai Indígena – reconstrução da política de saúde indígena, desafios e perspectivas”, onde foi compartilhada e denunciada e situação calamitosa em que se encontra a saúde indígena na região Sul, assim como em outras regiões.

No quinto e último dia, o ATL Sul encerrou suas atividades com a voz potente das mulheres indígenas, que demarcaram o evento com a mesa “Mulheres Indígenas reflorestando o amanhã”. A mesa começou com a queima de ervas e rezo Guarani e seguiu com as falas de diversas mulheres que, pela segunda vez, ocuparam uma plenária apenas de mulheres indígenas no ATL Sul.

Mulheres indígenas mostraram sua força e ancestralidade nos dias do evento e em plenária. Foto: Yago Kaingang

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