POR EQUIPE COMIN AMAZÔNIA
Mais de 30 mulheres indígenas dos povos Puruborá, Migueleno e Kujubim que vivem em contexto urbano encontraram-se, nos dias 1º e 2 de setembro, para ecoar suas vozes de resistência e atribuir sentido na luta pelos territórios ancestrais de seus povos. O encontro aconteceu em Costa Marques (RO), no centro de formação da Igreja Católica.
Crianças, jovens, adultas e idosas vivenciaram os dois dias de atividades e as trocas de saberes e sabores permearam os momentos. Primeiramente, através dos alimentos tradicionais de cada povo, trazidos e partilhados na noite do dia 1º, sendo o peixe o alimento comum, acompanhado da chicha, chás, paçocas, bolos e uma memória de muita fartura que passava e chegava nas comunidades por meio dos rios São Miguel, Manoel Correia e Guaporé.
No segundo dia, foi o momento de partilhar as árvores genealógicas, construídas ao longo das semanas que antecederam o encontro e que envolveram momentos de família que possibilitaram rememorar a vida e trajetória de cada povo. Olhando a história, as mulheres chegaram ao momento presente, onde os três povos, ainda em luta pelo território, vivem, em sua maioria, dispersos nos vários municípios de Rondônia.
Isso reflete as diversas violações de direitos que são enfrentadas pelos povos indígenas do estado: a primeira é a negação do direito aos territórios, ao mesmo tempo em que se vê aumentar a invasão e a exploração dos mesmos, que faz com que se tornem mais escasso o que antes era fartura. A falta de acesso a políticas públicas específicas e o racismo foram relatos latentes. De outro lado, quem vive no território se vê rodeada de ameaças e da inoperância do poder público de garantir o território e a vida daquelas que lutam por ele.
Os territórios dos povos Puruborá, Migueleno e Kujubim estão localizados na região conhecida como Vale do Guaporé, ou BR-429, em Rondônia, e são reivindicados desde os anos 2000, quando esses povos reafirmaram sua identidade étnica e alçaram seu reconhecimento formal junto aos órgãos indigenistas. Passados anos de luta, é perceptível a força e persistência das mulheres Puruborá, Migueleno e Kujubim que lideram seus povos na luta pelo território. Transpassadas por um passado e presente de dor e violências, são elas, principalmente, que mantêm a linha ancestral de seus povos e a memória dos territórios.
Reunidas, as mulheres puderam falar dessa história, buscar e identificar suas e seus ancestrais, reviver memórias e reconectar alianças. Como as que foram trazidas pelas três matriarcas Kujubim Suzana, Francisca e Rosa, que até hoje guiam seu povo pelos ensinamentos que deixaram; e de Emilia Puruborá e Irís dos Reis Freitas Migueleno, que andam sempre juntas tendo o cuidado e a cumplicidade uma com a outra.
O encontro das mulheres Puruborá, Migueleno e Kujubim foi realizado em parceria com o projeto Moviracá: direito à terra indígena, fruto da parceria entre o movimento indígena e a Fundação Luterana de Diaconia-Conselho de Missão entre Povos Indígenas (FLD-COMIN), financiado pela União Europeia (UE). FLD-COMIN também esteve presente com sua equipe de assessoria de projetos.