A Terra Indígena (TI) de Mangueirinha, em Mangueirinha/PR, recebeu, durante três dias, delegações de diversos povos indígenas do sul do país para o II Acampamento Terra Livre (ATL) da região Sul. O encontro, que aconteceu do dia 17 ao 19 de dezembro, contou com a participação de cerca de 400 indígenas dos povos Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá e foi um momento para articulação e debate de importantes questões indígenas, como a defesa de direitos, conjuntura política, gestão territorial e ambiental, saúde e autonomia dos povos indígenas. O COMIN apoiou a participação de quase cem pessoas no encontro, entre elas lideranças Kaingang e grupos de danças Kaingang do Rio Grande do Sul.
Na quarta-feira (20) à tarde, ao final do evento, o grupo bloqueou a BR-373, próxima ao trevo de Mangueirinha, por cerca de duas horas. O ato fez parte da mobilização nacional que reivindicou a permanência da FUNAI no Ministério da Justiça. Também houve a produção de um documento público que foi encaminhado à FUNAI. De acordo com um dos organizadores da ATL da região sul deste ano, o cacique da TI Kandoia, de Faxinalzinho/RS, e uma das lideranças do movimento Kaingang no Rio Grande do Sul, Deoclides de Paula, esses movimentos são importantes para que os povos indígenas possam se organizar e brigar pela permanência de direitos conquistados, principalmente nesse momento de ataque aos povos indígenas. “Muitos indígenas tombaram pra gente ter a garantia de direitos na Constituição e não seremos nós que vamos deixar a luta dos nossos antepassados passar em branco”, afirmou. Apesar dos ataques que os povos indígenas vêm sofrendo, o cacique lembra que as comunidades indígenas não são contra o desenvolvimento brasileiro, apenas querem viver em suas terrar e com dignidade.
O cacique da TI Goj Veso, localizada em Iraí/RS, e também uma das lideranças do movimento Kaingang do Rio Grande do Sul, Isaías da Rosa, afirmou que o evento foi bastante produtivo e exaltou a oportunidade de fortalecimento dos indígenas como povo. Assim como Deoclides, Isaías ressaltou a preocupação de todas e todos com o novo governo que tomará posse a partir de 1º de janeiro e, por isso, “o momento é de unir forças por um objetivo só”.
Trabalho continuado
O Acampamento Terra Livre acontece, anualmente, em Brasília, durante o mês de abril. A partir da necessidade do movimento indígena se posicionar diante de um cenário crítico em que se torna recorrente diversos ataques aos coletivos e aos direitos indígenas, principalmente aos direitos territoriais, percebeu-se a demanda da realização de encontros regionais. Em 2017, a primeira edição do ATL da região Sul aconteceu na TI Goj Veso, em Iraí/RS.
Para o representante dos povos indígenas do Rio Grande do Sul no Conselho Nacional dos Povos Indígenas em Brasília e mestrando em Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Douglas da Rosa, do povo Kaingang, apenas com a segurança fundiária dos povos indígenas, ou seja, a regularização de suas terras, é possível tratar de outros direitos que também estão garantidos constitucionalmente. Por isso, o evento desse ano deu continuidade ao que foi feito no ATL da região Sul do ano passado. Douglas acredita que a importância desses encontros se dá em reunir diferentes sujeitos indígenas e se pensar na construção da pessoa e cidadania indígenas, além da possibilidade de se repensar as estratégias de resistência aos diferentes ataques aos direitos indígenas que estão se desenhando no cenário atual.