Contra os retrocessos e os desmontes na saúde indígena, centenas de mulheres indígenas que estão participando da primeira Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, ocuparam o prédio da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) na manhã de hoje (12). Elas pedem a não municipalização da saúde indígena e a saída da secretária Silvia Wajãpi, que não atendeu o pedido para se reunir com as lideranças. Ao chegarem no prédio, os policiais tentaram impedir a entrada das mulheres, mas não conseguiram.
A representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) Sudeste, Célia Xakriabá, afirmou que foi um desrespeito com as mulheres que estão participando da primeira Marcha das Mulheres Indígenas não serem recebidas na Sesai, órgão responsável pela coordenação e execução da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Silvia Wajãpi, apesar de ser indígena, não representa o coletivo das mulheres indígenas, segundo ela. “Viemos dialogar e fortalecer a não municipalização da saúde indígena, mas ela não dialoga com o movimento”, disse.
Célia explicou que a municipalização da saúde indígena representa um genocídio para as mulheres, por isso estão em luta. “Tentar negociar a saúde indígena é tentar negociar as nossas vidas”, ressaltou. Para a coordenadora da Apib Sonia Guajajara, é a força da ancestralidade e dos encantados que dará força e coragem às mulheres indígenas para seguirem na resistência para não aceitar nenhuma lei injusta que possa prejudicar a saúde e a vida dos povos indígenas. “Não vamos aceitar esse governo genocida do Bolsonaro”, reiterou.
Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, a saúde indígena vêm sendo ameaçada com uma série de mudanças que tem levado os povos de todas as regiões do país a realizar diversos protestos. Entre as mudanças estão a municipalização do atendimento e a possível extinção da Sesai. No começo de julho, indígenas do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Litoral Sul ocuparam a sede da Sesai por duas semanas. As principais reivindicações eram a normalização dos repasses mensais que, desde a nomeação de Silvia em abril, vêm sofrendo com atrasos, o restabelecimento da autonomia de gestão, o retorno da participação social e a renovação dos contratos de serviço de transporte para as trabalhadoras e os trabalhadores e pacientes do subsistema de atenção à saúde indígena. Após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério da Saúde e a Sesai, o grupo desocupou o prédio.
Sobre a Marcha das Mulheres Indígenas
A Marcha das Mulheres Indígenas acontece desde o dia 09 e vai até 14 de agosto em Brasília. O encontro, que tem como tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, já reuniu mais de 1500 mulheres de mais de cem povos de todas as regiões do país. O objetivo da marcha é ser um grande encontro de mulheres indígenas para dar visibilidade às suas ações, discutindo questões inerentes às suas diversas realidades, reconhecendo e fortalecendo os seus protagonismos e capacidades na defesa e na garantia dos direitos humanos, em especial o cuidado com a mãe terra, o território, o corpo e o espírito.
A realização Marcha das Mulheres Indígenas foi deliberada durante a Plenária das Mulheres realizada no Acampamento Terra Livre (ATL) em abril deste ano. Desde então, lideranças de todas as regiões do país iniciaram o processo de mobilização e captação de recursos para o evento. Ao final do encontro, as mulheres indígenas irão se somar à Marcha das Margaridas, ato que reúne mulheres do campo e da floresta, em uma grande manifestação nacional em prol dos direitos e protagonismo da mulher, a partir de uma visão de desenvolvimento sustentável e de justiça social.