O evento surgiu da necessidade de desenvolver uma reflexão mais ampla e contínua sobre a temática da terra em seus diferentes aspectos: políticos, sociais, econômicos, ambientais, bíblicos e teológicos.
Participaram do Encontro representantes do Departamento de Educação Cristã, da Rede Sinodal de Educação, da diretoria e secretaria da Instituição Sinodal de Assistência, Educação e Cultura, da Escola Superior de Teologia, pastores Sinodais, Fundação Luterana de Diaconia, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – Núcleos de Pelotas e Erexim, conselheiras(os) e obreiras(os) do COMIN. O evento teve como assessores: Ivaldo Gehlen, sociólogo, professor da UFRGS; Oneide Bobsin, teólogo, Reitor da EST; Lúcio Schwingel, antropólogo, obreiro do COMIN.
O encontro iniciou com a meditação: Terra – a matéria prima dos humanos (Clique e leia na íntegra) feita pelo P. Hans Trein, que tomou como base os relatos bíblicos da criação, que fazem referência ao fato de que o ser humano foi criado do humus da terra. “Esse vínculo inseparável também ficou conservado em algumas línguas: os humanos são feitos de humus. A pessoa humana é um pedaço de humus contendo o sopro divino. Quando os humanos se distanciam e alienam da terra, esse vínculo sagrado é destruído. Matar uma pessoa humana significa machucar a terra. Ferir a terra significa matar pessoas humanas. O humus grita por causa da morte de Abel e abre sua boca para absorver o seu sangue (Gn 4.10s). O humus é tão sagrado como a vida humana. Somente nesse vínculo sagrado é pensável haver um futuro sustentável”.
Após a meditação, os participantes foram convidados a refletir em pequenos grupos sobre a temática do Encontro levando em conta o próprio envolvimento de cada um em relação à terra, enquanto pessoa, instituição e campo de trabalho. A troca de informações foi muito rica e as considerações abrangentes, levando ao aprofundamento do tema e apontando para a necessidade de lavar o debate adiante.
Num segundo momento, o grupo contou com a assessoria do sociólogo Ivaldo Gehlen, que apresentou vários aspectos que envolvem a temática da terra. Segundo ele, a palavra Terra, hoje é efervescente e, na mídia, em geral, aparece de forma conflituosa. Enquanto que, em relação à sua ocupação e uso, existe uma falta de padrões e normas de comportamento; não existe um consenso de valores éticos. Existe sim uma anomia que se enquadra dentro do próprio contexto da crise brasileira. A partir desta visão, Ivaldo trouxe dados sobre a mobilidade social no Brasil, a história da ocupação e uso da terra, estrutura e formas sociais existentes na agricultura brasileira. Estes dados foram relevantes para entender a complexidade da conjuntura agrária no Brasil e a diversidade de concepções e usos da terra.
Uma das constatações do encontro foi que em nosso país convivem diversos grupos socioculturais com tradições diferenciadas em termos de concepções e uso da terra. Para algumas tradições a terra pode ser vista como fonte de poder ou como mercadoria, para outras como espaço de vida, de convivência e de sobrevivência. Entender esta diversidade e seus processos históricos é um dos desafios em relação à temática, visto que muitos conflitos em relação à terra se originam na prática destas formas diferenciadas de conceber a terra.
Entre os encaminhamentos propostos pelo grupo de estudo, constam: a continuidade das reflexões sobre a temática da terra, inclusive com envolvimento maior dos Sínodos e da direção da IECLB; um programa de formação para entender melhor todas as questões que envolvem temática; e a formação de um grupo mediador de conflitos em relação à terra.