Na Quaresma, a fala do profeta Amós “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, acompanha-nos na Campanha de Fraternidade Ecumênica 2016.
Como nós vivemos na nossa casa comum? Como nós nos responsabilizamos para que todos os seres-humanos, animais, plantas, árvores, rios, toda a criação em sua diversidade maravilhosa, possam aproveitar seus direitos?
Isso também é uma pergunta que os povos indígenas colocam para a sociedade brasileira.
No caderno para a Semana dos Povos Indígenas de 2016 Laklãnõ/Xokleng – O povo que caminha em direção ao sol, do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), estas perguntas são apresentadas em dois momentos, que refletem dois dias da Semana Santa: a Sexta-Feira Santa e a Páscoa. O momento da ausência de luz e o da esperança são representados pelo poema de João Adão Nunc-nfoônro de Almeida, intitulado Saudade.
Saudade do índio, sentando no chão,
Em volta do fogo, comendo pinhão.
Saudade do cântico, que o kujá cantava,
E de todo povo, que alegre dançava.
Saudade da mata, por onde andavam,
Saudade da caça, que a todos tratavam.
Saudade do mõg, que o índio bebia,
Saudades das festas, tudo era alegria.
Saudade do fogo, que o índio acendia,
Saudade das danças, grande era a alegria.
Saudade do rio, onde as crianças nadavam,
Saudade dos peixes que os índios alimentavam.
Saudade das festas, e dos casamentos,
Sempre em luas cheias, era um grande evento.
Saudade de tudo, que o índio usava,
E a tradição sempre continuava.
Saudade da terra, que foi invadida,
Saudade da mata, que foi destruída.
Saudade da relva, que o fogo queimou,
Saudade de tudo que o tempo apagou.
Saudade do ouro e do pau brasil,
Saudade de tudo, que daqui sumiu.
Saudade do índio que o branco matou,
Com esta Saudade para o túmulo vou.
A Páscoa não nos deixa no túmulo. Ela nos abre para um outro mundo possível: onde as forças da morte não vencem, mas onde o direito brota como fonte e onde a justiça corre como um riacho que não seca.
O povo Laklãnõ/Xokleng também nos oferece um exemplo da esperança nas suas comunidades: o renascimento da consciência da sua cultura, língua, espiritualidade. Eles levam as pessoas não indígenas na Mata Atlântica, mostram a biodiversidade e ensinam sobre a sua cultura. No encontro e no diálogo, eles mostram que não são como “aquele indígena retratado em livros e programas de televisão, mas o indígena real, que tem sua língua, tem voz, tem sonhos, alegrias e tristezas; tem sabedoria, tem vida e que é Laklãnõ/Xokleng.”
Desde o ensino sobre a sua cultura, os Laklãnõ/Xokleng oferecem o olhar para uma maneira diferente de viver e de cuidar da nossa casa comum.
Acesse o Caderno da Semana dos Povos Indígenas: http://comin.org.br/publicacoes/interna/id/104