“O papel do Kujã (Xamã) na Sociedade kaingang Contemporânea” Nos dias 20, 21 e 22 de setembro de 2006 aconteceu o 1º encontro dos anciãos indígenas Kaingang do Rio Grande do Sul, sobre o Papel dos Kujã na Sociedade Contemporânea, na aldeia do Morro do osso, onde líderes espirituais Kaingang se encontraram para refletir sobre o mundo nos dias atuais.
Estes dias de encontro serviram para rediscutir e revitalizar a memória da ancestralidade indígena como instrumento de luta e sobrevivência física e cultural dos povos indígenas bem como apresentar à sociedade brasileira e ao mundo que após 506 anos de invasão do homem branco com seu aparato econômico e religioso, nós Kaingang continuamos vivos e resistindo graças ao nosso Deus e à Mãe Terra.
O homem branco no passado derrubou nossos galhos e troncos, mas não matou as raízes, que hoje brotam e florescem. A memória do nosso povo rejuvenesce a cada dia florido de esperanças e desafios.
Esperanças de continuar vivendo na face da terra, reproduzindo e perpetuando a espécie sem discriminação ou vistos como animais ou feiticeiros. E o desafio de ensinar o Brasil e o mundo sobre educação, saúde, moradia, bem estar social, respeito e cidadania.
Diante deste manifestamos ao governo brasileiro, nos níveis municipal, estadual e federal nosso repúdio a ações que ferem a dignidade e os direitos dos povos indígenas. Solicitamos ao governo brasileiro a urgente demarcação e homologação das terras no país, especialmente no Rio Grande do Sul. A criação urgente de um Grupo de Trabalho (GT) por parte da FUNAI para as terras que são reivindicadas pelas comunidades indígenas. Repudiamos a postura da FUNAI, que através de seus antropólogos manifesta uma visão preconceituosa e minúscula sobre os índios do Sul do Brasil.
Solicitamos ainda ao governo brasileiro o reconhecimento de que somos nações indígenas independentes e que sejam destinados 10% do PIB em recursos financeiros para a saúde, educação, produção de alimentos – diretamente às comunidades indígenas – no intuito de evitar a prefeiturização e a manipulação política nas aldeias pelos partidos políticos. Pois os povos indígenas no Brasil estão em crescimento, atualmente com 700.000 pessoas, sendo que queremos chegar em breve a 1.800.000, o que significa pelo menos 1% da população brasileira.
Que isto seja visto com carinho para que os povos indígenas orientem e ensinem os administradores brancos a gestão democrática e transparente;
– que sejam destinados recursos para bolsa de estudos de jovens indígenas nas universidades públicas;
– que o Ministério da Saúde, enquanto gestor do Sistema Único de Saúde (SUS) do país reconheça a figura do Kujã como alicerce para a promoção de saúde nas comunidades indígenas e que reveja urgentemente a política da prefeiturização da saúde indígena, pois o repasse fundo a fundo para a contratação de equipes de saúde só tem servido a prefeitos para promoção da política partidária;
– que sejam realizados encontros dos Kujã com Agentes Indígenas de Saúde para a capacitação sobre o conhecimento da medicina tradicional;
– que sejam garantidos recursos para o encontro dos Kujã nas aldeias para o apoio à comunidades que necessitem (Programa Wãre);
– que seja garantido a capacitação de conselheiros locais e distritais de saúde para o aprofundamento do controle social;
– que a política de educação contemple o conhecimento dos Kujã no processo de ensino e aprendizagem com espaços garantidos junto aos professores indígenas bilíngüe;
– que na UFRGS se abra espaços para a formação acadêmica dos Kaingang, para pesquisa e revitalização de práticas produtivas tradicionais;
– que o governo do estado do Rio Grande do sul garanta recursos financeiros para a implantação de atividades produtivas em terras indígenas com assistência técnica e assessoria indígena.
Por fim, que a Terra Indígena do Morro do Osso seja demarcada urgentemente e homologada tão importante para as futuras gerações Kaingang.
Porto Alegre, 22 de Setembro de 2006.
Equipe responsável pela elaboração do presente documento: Pedro Sales Kuremág – Terra Indígena Guarita, Dorvalino Refej Cardoso – Comunidade de São Leopoldo, Augusto Opé da Silva – Terra Indígena de Irai, Natalino Góg Crespo – Terra Indígena Guarita