A arte da cerâmica Apurinã remonta a uma prática milenar desse povo. Com o intuito de resgatá-la, o COMIN realizou mais uma oficina de cerâmica tradicional com mulheres Apurinã. A atividade aconteceu entre os dias 09 e 17 de agosto na Terra Indígena (TI) Kapyra/Kanakury, comunidade Xãmakery, em Pauini (AM).
A oficina contou com a presença de 38 meninas, jovens e mulheres adultas. O que chamou a atenção e deixou as mestras da cerâmica Léia Carlos Apurinã e Osvaldina Manduca Apurinã bastante alegres foi a expressiva participação de meninas de seis a 11 anos de idade. “Hoje eu estou muito feliz por participar dessa oficina. Aqui nessa terra, que é a terra dos meus antepassados, dos meus parentes, primos, tias. Quero ensinar todo o conhecimento da cerâmica que aprendi com minha avó e agora ensino para minhas filhas e netas e vou ensinar para os parentes que estão aqui”, afirmou Léia. Ela e Osvaldina realizam as oficinas de cerâmica Apurinã junto ao COMIN há quatro anos.
Além de Léia e Osvaldina, as mestras de cerâmica da oficina foram Katsuna Apurinã, da TI Camicuã comunidade Camicuã, e Emamarupa Apurinã, da TI Peneri/Tacaquiri comunidade Vera Cruz, com auxílio de Awaynero Apurinã, Kutxiri Apurinã e Vanete Marcelino da Silva, filha de Osvaldina Manduca Apurinã, e Francisca Bernardo da Silva Apurinã da TI Peneri/Tacaquiri, comunidade Boa União. Já as participantes da oficina de cerâmica eram da TI Peneri/Tacaquiri, comunidades Jangunço II, Boa União e Boa União II, Vera Cruz e da TI Kapyra/Kanakury, comunidades São Benedito e Xãmakery II.
São diversos os utensílios fabricados pelas mulheres Apurinã a partir do barro: vasos, potes, pratos, copos, etc. A partir do aprendizado da técnica da cerâmica tradicional, as mulheres Apurinã, principalmente as meninas, garantem a revitalização cultural da arte da cerâmica, além de ser uma fonte de renda e troca de saberes tradicionais entre avós, mães e filhas das comunidades envolvidas.
Segundo as kyru, o trabalho com a argila e o barro sempre foi uma prática das mulheres. Sabiamente, elas passaram a técnica de geração a geração. Assim, mães, filhas e netas trabalhavam com o barro, o que na língua Apurinã se chama hãkape ou katsary. Entretanto, no decorrer das últimas décadas, o povo Apurinã tem vivenciado uma série de transformações sociais, econômicas, linguísticas e culturais devido a fatores como o processo intenso e violento de massacre, colonização e, principalmente, da perda de territórios tradicionais, o que dificulta a retomada de processos tradicionais de sua cultura.