No carnaval de 2018, uma polêmica surgiu nas redes sociais, tratando das fantasias “de índio” usadas nesta época. Muitas reflexões foram feitas, diferentes opiniões e até uma campanha com a frase “Índio não é fantasia”. Embora muitas pessoas gostem de emitir opiniões, achamos que somente os/as indígenas podem definir o que acham positivo ou não para o fortalecimento cultural. Mesmo assim, no Brasil são mais de 305 povos indígenas e, é claro, surgiram os mais variados posicionamentos, também por parte de indígenas. Seriam essas atitudes parte de uma apropriação cultural? É desrespeitoso usar elementos de culturas indígenas? Essa apropriação poderia ser uma força de valorizar os povos indígenas?
Aqui, quem dá o recado sobre o assunto e emite sua opinião, é Rodrigo Mariano, universitário do curso de Direito da UFSM-Universidade Federal de Santa Maria/RS, que pertence ao povo M´bya Guarani.
1- O que você entende sobre apropriação cultural?
Apropriação cultural é quando determinado grupo toma para si elementos de outra cultura. Atentando para toda a polêmica gerada nesse carnaval acerca dos acessórios da cultura indígena, não vejo como apropriação cultural, mas sim como um desrespeito com nossa cultura. Afinal, são acessórios que têm significados, para os quais a sociedade não tem interesse em saber e conhecer.
2- De que forma o uso de “adereços” que fazem parte da cultura de um povo indígena pode prejudicar ou fortalecer a luta deste povo?
O uso de “adereços” de nossa cultura denota “ofensa” a ela, quando utilizados sem um prévio consentimento e verdadeiro entendimento sobre o seu significado. A utilização de “acessórios” indígenas é positiva, quando tomada com sentido de criticar a nossa real situação em relação às violações de nossos direitos. É importante e respeitosa quando o sentido é valorizar uma cultura e não apenas como simples fantasia carnavalesca.
3- De que forma os não indígenas podem contribuir para a valorização das culturas indígenas?
As contribuições que os não indígenas podem oferecer, no sentido de valorização cultural dos povos originários, seria, no meu entendimento, buscar o verdadeiro significado de cada objeto e/ou atividades/atos (como agimos). A partir disso, trazer, relatar, manifestar e até mesmo utilizar elementos de nossa cultura, mas o mais importante: não deixar de fazer referência ao significado/sentido das coisas e aos povos de onde se originou o objeto, música, palavra, frase, etc.
Um pouco sobre o carnaval é que a utilização de “acessórios” indígenas como o cocar, por exemplo, vem dotado de um sentido muito vago, que é “vou ter que sair pra rua diferente” ou “vou me fantasiar de índio”. O incômodo gerado é exatamente por isso, apenas se fantasiar.
Mas sobre a apropriação cultural, ainda podemos falar a respeito do chimarrão, do churrasco, do uso de grafismos indígenas em objetos e muitas outras situações, em que observamos elementos de uma cultura utilizados por outro grupo cultural, dos quais se quer saber o significado ou para que/m serve. Outro exemplo, muito usado pelo movimento negro, é a questão dos dreads, que tem origem no povo negro, mas que a sociedade acha mais “bonito” em pessoas que não são negras.
Para quem quer demonstrar apoio aos povos indígenas e suas lutas, seguem algumas sugestões:
*Conheça, respeite e valorize a história e presença indígena em sua região.
*Reconheça que cada povo indígena tem seu jeito de ser e estar nesse mundo.
*Valorize o artesanato indígena.