O COMIN participou do Mutirão Ecumênico 2015 – Sulão VIII, que aconteceu entre os dias 28 a 30 de agosto em Florianópolis (SC). O encontro tematizou “A missão da Igreja no Estado laico” sob o lema “Venha a nós o teu reino” (Mateus 6.10), tendo como objetivo refletir e criar ações ecumênicas que colaborem com a cidadania, o fortalecimento de um Estado democrático e uma sociedade mais justa.
O evento acontece a cada dois anos e reúne igrejas, instituições e organizações dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Este mutirão foi organizado pelo CIER – Conselho de Igrejas para Estudo e Reflexão; CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; FACASC –Faculdade Católica de Santa Catarina; CADES-EST – Centro Acadêmico Doutor Ernesto Schlieper, da Faculdades EST; CEBI – Centro de Estudos Bíblicos – Sul (RS, SC, PR); REJU-Sul – Rede Ecumênica de Juventude-Sul; Movimento Focolares; e Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Braz.
O encontro teve como assessores Dom Leonardo Steiner, Secretário-Geral da CNBB, Pastor Dr. Oneide Bobsin, representante da Presidência da IECLB, e o Dr. Pedro Simon, ex-senador/RS. A Pastora Romi Bencke, secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), coordenou a mesa.
Dom Leonardo ponderou que “nós não apenas anunciamos, muitas vezes temos que denunciar”; este é o papel de todo cristão e de toda cristã. Os movimentos sociais precisam se envolver com a forma como o Estado se organiza, o povo precisa se envolver. Somente desta maneira haverá justiça e transformação. A nossa missão enquanto igrejas é estarmos mais presentes, sermos mais incisivos/as nas decisões do Estado, testemunhando para que todas as pessoas, sem distinção, sejam respeitadas, amadas e inseridas no acesso aos seus direitos, para que todos/as tenham vida digna. Nós precisamos nos organizar mais e melhor, criar círculos de debate e reflexão, fazer mais posicionamentos e ir mais para a rua, sem medo de dar a nossa contribuição.
Pastor Oneide pontuou que o Estado não é um ente abstrato, fora do mundo. Ele assume feições e interfere na realidade. Lutero nunca entendeu Estado e Igreja como entes independentes, no sentido de dividir os cuidados entre corpo e alma de forma dualista. Ele considera que o principal problema na administração pública brasileira hoje é que “O estado é um balcão de negociação da classe dominante”. Quando o povo não participa do Estado, a classe economicamente dominante exerce domínio sobre as decisões do mesmo. P. Oneide lançou também uma pergunta: “A quem a Igreja e o Estado estão servindo?”
O ex-senador Simon considera que estamos vivendo no Brasil um dos momentos mais significativos politicamente, quando o povo está percebendo que, somente indo para as ruas, pode fazer as reformas políticas necessárias, a fim de diminuir a corrupção e exigir políticas públicas mais justas. No Congresso Nacional há representantes para grandes empresários, banqueiros, grandes proprietários de terra. Quem representa o povo e suas minorias? Esta realidade precisa mudar. Ele destacou ainda que, pela primeira vez na história do país, políticos e grandes empresários corruptos estão sendo condenados e presos pelos seus crimes.
A pastora Romi ponderou que a conjuntura nacional é complexa e as religiões ocupam seu lugar na sociedade. Nós, pessoas cristãs, precisamos sair da zona do conforto e testemunhar a nossa fé na sociedade, em busca do reino de justiça e paz. A grande mídia também é manipulada, mantida pelas elites, para selecionar, dar destaque a determinadas notícias.
Entre as dez oficinas que aconteceram no encontro, o COMIN assessorou uma sobre o tema ‘Igreja, o Estado e povos originários’, junto com o professor Dr. Marcos Rodrigues da Silva (FURB/SC). As oficinas tiveram como objetivo refletir temas específicos e assumir compromissos de ações transformadoras em âmbito ecumênico. Participaram da oficina do COMIN 14 pessoas. O grupo presente refletiu sobre a atual realidade dos povos tradicionais e constatou grandes desafios a serem superados, como a falta de conhecimento da sociedade em geral acerca da história e cultura dos povos indígenas; a sua invisibilidade, a falta ou ineficácia de políticas públicas, a diminuição de seus direitos, o preconceito. As ações propostas pelo grupo foram: a) A criação de uma formação continuada em âmbito ecumênico sobre a história e a realidade atual dos povos tradicionais no Brasil. b) A presença de representação dos povos tradicionais nos próximos encontros ecumênicos do Mutirão.