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Intercâmbio entre comunidades Guarani

Intercâmbio entre comunidades Guarani
18 de março de 2013 zweiarts

A mobilidade guarani pode ser pensada como um “contínuo caminhar”, em um amplo território, hoje compartilhado com muitas outras pessoas (e constituído também pela presença de cidades, de fazendas, de plantações, parques de preservação, etc.). Como estilo de vida, a mobilidade colabora para a produção de novos saberes, para a circulação maior de bens, de sementes (nutricionais, medicinais e para artesanato), além de ervas medicinais, e ainda proporciona às pessoas o desenvolvimento de certas habilidades que são consideradas importantes para afirmar o “bem viver”. Neste peregrinar constante o povo Guarani vai incorporando elementos de distintas regiões e culturas aos seus modos de viver. O intercâmbio realizado entre os dias 10 a 15 de janeiro de 2013, na comunidade Guarani Tekoá Ka´gua Porã, aldeia Gengibre de Erval Seco vem ao encontro do modo de vida tradicional guarani. Na oportunidade, foram realizadas oficinas de Cachimbo de Barro (Petygua). Participaram das oficinas 25 pessoas, a grande maioria eram mulheres com crianças e adolescentes e alguns homens, entre eles o Karaí. As monitoras Talcira Gomes, da aldeia Estiva, município de Viamão, Antônia Garaí e Elisa, ambas da aldeia Passo Grande da Barra do Ribeiro, e as Assessoras do Conselho de Missão entre Indígenas, Evanir Ermelinda Kich e Noelí Teresinha Falcade também fizeram parte deste encontro. As mulheres Guarani que vieram da grande Porto Alegre trouxeram o barro (Nheûxĩ), retirado das margens do Rio Passo Grande na região do Guaíba. Segundo as monitoras, existem três qualidades de barro: preto, branco e vermelho. Para fazer os cachimbos, são necessários pelo menos dois tipos misturados. O barro precisa ser novo e úmido. Ser puro, sem misturas de pedras. As pedras dentro do barro facilitam para estourar o cachimbo na hora de queimar. Se o barro for duro, é necessário socar no pilão, peneirar, colocar água e amassar. Geralmente este trabalho de fazer cachimbos é das mulheres Guarani. A monitora Antônia conta que aprendeu a técnica de fazer cachimbo com a sua mãe. “Gosto muito de passar o conhecimento às pessoas – meus parentes – que querem aprender”. Já Talcira, aprendeu a fazer cachimbo com a sua tia e relata sobre o aprendizado. “Fui passear na minha tia e ela disse assim: tenho um barro ali. Vou te ensinar a fazer cachimbo, sei que tu gostas de fumar.” Eu disse a ela: “Tenho medo de fazer e quebrar. Mas fiz. Soquei no pilão, peneirei e amassei. Fui colocar, secar e falei para Nhanderu – eu tenho fé, vai dar certo. Após secar por três dias, fomos queimar. Queimou, não quebrou. Agora é só fazer, posso fazer”. Diante desta conversa relatada por Talcira, a cacica Tereza Fernandes chama a atenção para os grupos de pessoas aptas a fazer o cachimbo e obter bom resultado. Segundo ela “as pessoas que pertencem ao grupo Verá/Tupã/Pará, podem fazer o cachimbo, porque não vai estourar na hora de queimar”. Como preparar o cachimbo Para preparar o cachimbo, é necessário ter conhecimento. Conhecer o tipo de barro, a técnica de coletar, amassar e modelar. Saber também o tempo de espera para secar. Precisa ter prática para queimar, após 03 a 04 dias de secagem à sombra. As monitoras Antônia e Talcira, conhecedoras da técnica, amassam em várias vezes um punhado de barro com as duas mãos e distribuem para as/os participantes. Logo, todas/os iniciam a prática do amassar, amassar até alisar. Alisar e modelar como um pãozinho. Ao ficar pronto, todas/os colocam a secar na sombra por um dia. No dia seguinte, retornaram ao local para modelar (com auxílio de uma pequena faca, ir cortando para dar formato ao cachimbo). Os cachimbos foram preparados e modelados de diferentes formas e tamanhos. Após a modelagem, os cachimbos são colocados para secar a sombra por três dias. Passadosdos os três dias, o reencontro. É hora de queimar os cachimbos. Esta técnica é realizada com muita expectativa. Será que vai dar certo, será que não vai estourar? Os/As participantes das oficinas preparavam em média dois a três cachimbos cada um. A grande maioria obteve êxito na atividade. Outros estouraram. Alguns cachimbos, entre eles os das crianças, foram queimados em casa por suas mães e avós. Por isso não temos os resultados. Interação entre o grupo A visita de intercâmbio entre as comunidades guarani possibilitou a troca de saberes e sabores. Foram preparados e degustados comidas e bebidas da culinária guarani. Bolo assado nas cinzas – mbyta mbojape, preparo de caça e da bebida de milho fermentado – kaguijy. Além disso, aproveitou-se para visitar as famílias, trocar ideias sobre o jeito de ser e viver guarani em outros espaços, espaços pequenos entre as grandes cidades e rodovias, mas com características próprias. Comprar e trocar artesanatos, matéria prima da mata e trocar experiências acerca da cultura guarani. A interação entre o grupo foi intenso. Os quatro encontros de trabalho no preparo dos cachimbos foram enriquecidos com muito diálogo na língua guarani. Algumas mulheres se destacaram na realização das técnicas com o barro. Além de fazer o cachimbo, modelaram pequenos pilões. Seu Hélio, Karaí da aldeia, participou ativamente das atividades. No final dos trabalhos, expressou com alegria seu contentamento a respeito dos cachimbos, disse ele: “achei muito bom que as mulheres Guarani vieram até nós fazer este trabalho. O cachimbo para o guarani faz parte da Opy, trás bons espíritos para nós”. Considerações finais e proposta de continuidade A equipe PIDA, juntamente com o COMIN/ASA, já vem realizando essa atividade desde 2009, sendo esta a 3ª. edição. Estas atividades são analisadas positivamente pelas comunidades guarani, pois, além de fortalecer e valorizar aspectos fundamentais da cultura deste povo, contribuem para o reencontro e aprendizagens mútuas entre as diferentes aldeias. Nesse trabalho apostamos em “processos de construção coletiva”. As iniciativas são pensadas, dialogadas e decididas no grande grupo. Assim, ao avaliarmos, já planejamos a continuidade deste trabalho de intercâmbio. No segundo semestre de 2013, representantes da comunidade Guarani Tekoá Ka´gua Porã, aldeia Gengibre irão participar de um intercâmbio na região da grande Porto Alegre. Desta vez a temática a ser trabalhada está relacionada à medicina guarani e ao preparo de compostos medicinais. Agradecimento De maneira especial agradecemos às comunidades que participaram, tanto com a anfitriã que recebeu o intercâmbio, quanto às monitoras que partilharam seus saberes com as/os parentes. Destacamos também o “Projeto Coletas da IECLB” como um dos facilitadores dessa atividade com seus recursos financeiros. Só assim foi possível realizar esta atividade. Então nosso agradecimento especial a cada um/a que contribuiu nesse sentido. Tenente Portela e Porto Alegre, janeiro de 2013 Assessoras do Conselho de Missão entre Indígenas: Evanir Ermelinda Kich e Noelí Teresinha Falcade.

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