Implantadas na década de 90 do século passado, as escolas indígenas representam um poderoso instrumento para a garantia dos direitos do indígena no Brasil, embora muitos povos desconheçam o potencial transformador do processo de escolarização intercultural, disse o antropólogo indígena, Dr. Gersem Baniwa, em seminário ministrado nesta quarta-feira, 24, na Faculdades EST, em São Leopoldo. Ao contrário das escolas tradicionais, onde o conhecimento é transmitido no ambiente da sala de aula, a educação indígena acontece prioritariamente na casa, no pátio, na roça e nos locais de pesca. “Os povos indígenas lutaram para ter direito à escola, mas escola do seu jeito”, frisou o palestrante. Desenvolvido no contexto do curso de especialização em Educação, Diversidade e Cultura Indígena, promovido no contexto do curso lato sensu “Educação, Diversidade e Culturas Indígenas” do COMIN em parceria com a EST, o seminário revelou o desenvolvimento de pedagogias tipicamente indígenas, fortemente atreladas à transmissão de conhecimento centrado no afeto e na confiança. “A repetição é o método mais eficaz de aprendizagem para os povos indígenas, que a utilizam para fixar e materializar na prática vivencial conceitos considerados centrais”. Segundo Baniwa, a temporalidade indígena acompanha o ciclo natural da vida, o que também se reflete em práticas pedagógicas que desconsideram os dias letivos com cargas horárias previamente definidas para cada nível de formação. Professor da Universidade Federal do Amazonas, Baniwa disse que nos últimos anos a educação escolar indígena foi articulada à Política Nacional de Educação, sendo constituída como um sistema próprio e considerada pela sociedade como um direito, e não como uma assistência. Na tentativa de diminuir as assimetrias e garantir a comunicação no sentido pleno, Baniwa relatou que os indígenas buscam a escola para acessar, principalmente, três conhecimentos advindos dos não indígenas: o português, a matemática e a informática. Ele indicou que, atualmente, o Brasil conta com 13 mil indígenas em cursos de Educação Superior, mais de 200 mil na Educação Básica, sete doutores, nove doutorandos e 53 mestrandos. “Se há 25 anos tínhamos um contingente de apenas 3% de indígenas atuando como professores nas aldeias, hoje os professores não índios é que somam menos de 3% do total”, comemorou Baniwa. Para o antropólogo, esses números revelam a superação da cultura colonial da tutela, do paternalismo e da dependência material e cognitiva que historicamente afligiu o indígena brasileiro, que embora represente menos de 1% do contingente populacional é gestor de 13% do território nacional. Além de estudantes e professores da Univates, Unisinos, Feevale, PUC-RS, KNH e representantes de ONGs, num total de 90 participantes, estiveram presentes ao seminário a Coordenadora Pastoral e Programática do COMIN, Dra. Renate Gierus, a coordenadora do curso de especialização em Educação, Diversidade e Cultura Indígena, Ma. Cledes Markus, o professor e historiador Kaingang, Bruno Ferreira, e o vice-reitor da EST, Dr. Remí Klein.