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VI. Assembleia Deni – Jovens e Vigilantes se destacam

VI. Assembleia Deni – Jovens e Vigilantes se destacam
22 de junho de 2011 zweiarts

Nos dias 3 a 5 de junho de 2011 realizou-se a VI. Assembleia da Associação do Povo Deni do rio Xeruã na aldeia Itaúba. Mais de 200 lideranças Deni e Kanamari participaram da assembleia. Como convidados estiveram presentes representantes da SESAI de Carauari, do CIMI da Prelazia de Tefé, da OPAN, do COMIN e da Pastoral da Criança de Itamarati. O evento contou com o apoio do COMIN de Carauari-AM através das entidades EED e FLD. Um dia antes da assembleia foi realizada a II. Olimpíada Indígena, com a participação das três aldeias Kanamari e das quatro aldeias Deni do rio Xeruã. A prefeitura de Itamarati-AM patrocinou as competições de arco e flecha, zarabatana, corrida e futebol de homens e mulheres. A importância da organização do povo O tema principal desta assembleia foi a vigilância da terra Deni. Destacou-se um novo grupo de 31 jovens que se formou neste ano. Oito deles fizeram, durante a assembléia, uma representação de seu trabalho e de seus objetivos. A assembleia foi aberta com uma homenagem ao Agente de Saúde Indígena Zumetavi Deni, da aldeia Morada Nova que, devido a um trágico acidente, deixou saudades aos parentes Deni, Kanamari e entidades que atuam na área indígena. Sharavi Makhuvi Deni falou, em nome do povo Deni, sobre a dedicação e o bom serviço que Zumetavi desempenhou para o povo no polo base da FUNASA. Era uma pessoa que se relacionava bem com todos e sempre procurava ajudar seu povo na busca de boas condições de vida, principalmente na área da saúde. Ao final da fala de Sharavi foi dada uma salva de palmas em sua homenagem. O presidente da Associação Deni, Vabishi Varasaha Deni, fez a abertura do evento relembrando o passado sofrido, enfatizando as conquistas do povo e a importância da associação: “O povo Deni tem uma história de violência, de exploração e de doenças, principalmente o sarampo, que quase acabou com nosso povo. Graças ao trabalho das organizações parceiras que ajudaram o povo a se organizar e a se libertar da dependência dos regatões temos hoje uma vida saudável. Orientaram-nos sobre a luta pela terra indígena e hoje temos nossa terra indígena homologada; precisamos continuar defendendo nosso território. A ASPODEX foi criada para o povo Deni se organizar e lutar por melhoria. A associação é uma conquista nossa e de nossos parceiros, temos que levar os trabalhos em frente, sempre unidos e com compromisso. Cada Deni é responsável pela associação. Apesar de tudo que passamos, hoje temos professores, escolas, agentes de saúde, computadores nas aldeias e outras coisas que vieram para ajudar nosso povo. Precisamos sempre buscar melhoria para nosso povo, pensando nas crianças e jovens, as futuras lideranças das aldeias. Nós Deni, devemos estar organizados para lutar por nossos direitos, direito a uma saúde e educação de qualidade, fiscalização da terra indígena. Às vezes nossos direitos não são respeitados. Já sofremos muito, mas agora a coisa é diferente, temos associação e lideranças formadas para estarem nos ajudando. Eu, como Presidente da associação, procuro trabalhar para ajudar meu povo, buscando melhorias e nos fortalecendo, sempre trabalhando com força e vontade.” A importância da vigilância Durante uma tarde inteira foi discutida a importância da vigilância da terra Deni no flutuante na boca do rio Xeruã. As quatro aldeias Deni se revezam no flutuante. Alguns queriam deixar os trabalhos. Às vezes faltava gasolina e a infraestrutura não está boa. Há dois anos não havia mais uma radiofonia no flutuante. Todos concordaram que não pode faltar este trabalho tão importante. Kurasi Hava Deni, vigilante da aldeia Morada Nova, falou: “Se não tem vigia na boca do Xeruã como iremos viver, o branco vai acabar nosso peixe, tendo vigia vai aumentar nosso peixe, vamos continuar com nossa trabalho. Estou cuidando do nosso lago para o manejo, se não cuidar, não vai ter manejo, por isso eu não quero deixar meu flutuante, tem que reformar o flutuante.” Outras lideranças e vigilantes falaram que é o povo Deni que cuida da sua terra. “É importante estarmos cuidando de nosso lagos para aumentar o pirarucu, para o manejo. O flutuante terá uma caixa d’agua com o aparelho de desinfecção de água com energia solar e será preciso cuidar dela e de outros materiais que lá tem. O flutuante é nosso, todos devem ter cuidado para não se acabar”, disse Sharavi Makhuvi Deni. Todos reafirmaram que a “vigilância tem que haver sempre e que sem vigia o kariva (branco) vai entrar no lago da terra Deni. Tem que tomar os materiais de pesca das pessoas que querem invadir nossa terra e nossos lagos. O trabalho de vigia é muito importante para nós. É importante proteger a terra, cuidar de nossos lagos, preservar para vender pirarucu e melhorar nossa vida”. Um Deni falou: “A terra é a nossa casa”. As mulheres deram o seu apoio aos vigilantes. Bereni Kuniva Deni, líder das mulheres da aldeia Morada Nova, enfatizou: “Os vigias não podem falar que não vão trabalhar mais, estamos trabalhando para nossa comunidade e para melhorar nossa vida, não podem deixar de vigiar”. Outras mulheres concordaram com estas palavras e Kariva Makhuvi Deni resumiu: “Não podemos deixar o trabalho, precisamos vigiar até o fim, temos que preservar nossa terra, é preciso fazer um bom trabalho, hoje tem alimento para os vigias, antes não tinha. Na assembleia não pode falar ninguém que vai sair do trabalho, temos que discutir assuntos para o bem de nossa aldeia, não devemos falar mal dos outros”. As mulheres Deni são as verdadeiras guardiãs da língua e da cultura indígena. Muitas delas falaram a respeito disso. Ashiva Deni expressou o sentimento de todas as mulheres: “Primeiro eu morava na aldeia Buzina, agora moramos no rio Xeruã, na aldeia Boiador, falo minha língua, preservo a minha cultura, faço brincadeira, ensino para meu povo. O que aprendi da agricultura repassei para meu filho, nossos conhecimentos”. A importância dos jovens Foi apresentada a coordenação do grupo de jovens da aldeia Morada Nova. Em suas apresentações falaram sobre o objetivo do grupo de jovens na aldeia, os temas que foram debatidos nos três encontros realizados. O grupo de jovens indígenas (com 31 jovens) foi fundado no dia 22 de abril de 2011. Nesta reunião também foi eleita a coordenação. Os temas discutidos durante os encontros realizados foram, entre outros: bebida alcoólica, cultura, terra indígena, direitos indígenas. Cada membro da diretoria da ASPODEX falou sobre o grupo, a importância do grupo de jovens na aldeia para ajudar o povo na busca de melhorias. Destacaram a importância dos jovens estarem estudando assuntos de seu interesse, de saberem das leis e de outros assuntos. A organização é fundamental para o fortalecimento da aldeia, do povo. Foi um momento especial na assembleia, onde os jovens demonstraram organização e interesse pelo fortalecimento do povo Deni. O jovem Amavi leu um documento do grupo de jovens: “Nós jovens somos o futuro das nossas aldeias. Nós vamos continuar o trabalho dos nossos pais e das nossas lideranças. Nós temos a obrigação de trabalhar para o bem dos nossos parentes, e principalmente para o futuro dos nossos filhos e netos. Nós temos que apoiar as nossas lideranças na defesa da nossa terra, da vigilância e da fiscalização para a garantia da nossa área indígena. A melhoria da vida do nosso povo depende de cada um de nós. Nós estamos aqui nesta VI. Assembleia Deni para lutar para tudo isto. Desde a chegada dos brancos somos obrigados a conhecer as leis e os nossos direitos para lutar contra aqueles que querem nada de bom para nós. Nós somos um povo que sofria já muitas dificuldades, especialmente doenças que quase extinguiram o nosso povo. Mas, graças a Deus, com o apoio de muitas entidades vencemos as dificuldades e o nosso povo cresce. Nós temos agora de novo uma vida saudável. Nós somos jovens e com força e coragem vamos enfrentar as dificuldades que surgirão no futuro. Mas isto acontecerá somente se estivermos unidos e bem organizados. Nós somos um grupo de jovens, uma organização que quer lutar por um futuro melhor do nosso povo.” Durante a assembleia foi instalado mais um conjunto de desinfecção de água com energia solar na aldeia Itaúba e, depois da assembléia, mais outro na aldeia Boiador. Com estes conjuntos há em três aldeias Deni água boa que diminui a frequência de diarreia nas pessoas destas aldeias. O trabalho foi feito em colaboração do COMIN-Carauari com o INPA de Manaus e com a entidade alemã Sonnenwasser AG. Essa entidade trouxe também, através de um amigo dos Deni, a tão desejada radiofonia para o flutuante de vigilância na boca do Xeruã.

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