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Dias Memoráveis na Aldeia Kanamari Flexal

Dias Memoráveis na Aldeia Kanamari Flexal
10 de março de 2011 zweiarts

Durante os dias 9 a 15 de fevereiro de 2011 aconteceram três eventos memoráveis na aldeia Kanamari Flexal do rio Xeruã, município de Itamarati-AM. O COMIN de Carauari-AM assessorou os três eventos: um curso de Formação de Mulher Indígena, A fundação da Associação do Povo Tâkuna (Kanamari) do rio Xeruã e um curso para professores Deni e Kanamari. Curso de Formação de Mulheres Deni e Kanamari Com o apoio da CESE e da Associação do Povo Deni do rio Xeruã aconteceu dos dias 9 a 12 o primeiro curso de Formação de Mulheres Deni e Kanamari do rio Xeruã. Participaram do curso 20 mulheres, parteiras e mulheres lideranças, dos dois povos. Os oito Agentes de Saúde das sete aldeias do rio Xeruã participaram na função de tradutores. A técnica de enfermagem Maria Cleide Souza Chaves, da SESAI (Secretaria Especial da Saúde Indígena) de Carauari-AM, ministrou as aulas e coordenou os debates e trabalho em grupos. Os temas do curso foram: saúde da mulher, medicina tradicional, organização social e movimento indígena. O curso não apresentou somente técnicas, mas lançou sementes sobre os direitos das mulheres indígenas e destacou a importância das parteiras e das mulheres indígenas em geral como guardiãs da cultura. Pela primeira vez houve um espaço especial para a articulação das mulheres Deni e Kanamari. O grupo fez uma reflexão sobre a frase de uma parteira sobre a diferença do trabalho de uma médica e de uma parteira: “A médica tem pressa, a parteira não”. Cada aldeia ganhou uma bolsa de um kit de parteira com tesoura cirúrgica, estetoscópio, capa de chuva e outro material necessário. A técnica de enfermagem Cleide explicou o uso de cada item e falou sobre a importância do pré-natal. As mulheres indígenas discutiram a sua visão de gravidez em comparação com a visão dos não-indígenas. As mulheres anotaram a melhor comida para gestantes que há na mata e no roçado. Foi colocada a dificuldade que muitas mulheres da sociedade não indígena têm em relação ao aleitamento materno. As mulheres indígenas podem ensinar muito a respeito. Um dia foi dedicado para a conversa e reflexão sobre o uso de plantas medicinais e de ervas caseiras. Houve uma troca intensa de experiências entre as mulheres. As jovens anotaram receitas desconhecidas. Foi muito bom perceber que as mulheres e as parteiras em especial têm um saber enorme. Elas usam realmente a medicina que a natureza oferece. Algumas parteiras possuem horta com ervas medicinais. Foi uma surpresa que muitas mulheres nada ou pouco sabiam a respeito de doenças sexualmente transmissíveis e agradeceram a coordenadora pelas explicações e querem se prevenir melhor. O último dia foi um dia especial. As mulheres Kanamari e Deni trabalharam em grupos e relataram: “Nós não queremos que se esqueça a nossa cultura. A vida depois da chegada dos brancos foi muito ruim, morria muita gente, os homens bebiam, os brancos se aproveitando das mulheres. Hoje a vida melhorou muito. Temos a terra, temos vacina, equipes de saúde. Os homens estão se organizando e bebendo menos”. As mulheres Deni falaram que vão para a cidade somente para pegar os recursos do bolsa família ou da aposentadoria. Ainda há muita discriminação nas repartições públicas e nos bancos em Itamarati-AM. As mulheres colocaram os seus desejos num papel: “Nós mulheres precisamos mais ajuda da equipe de saúde, queremos mais cursos de capacitação, mais cursos para parteiras, capacitação junto aos AIS (Agentes Indígenas de Saúde) e queremos também mulheres AIS e professoras e cursos com outras mulheres de outros povos indígenas. Queremos que os nossos filhos e filhas aprendam a ler e escrever”. As discussões foram muito boas e todas falaram que foi pela primeira vez que se colocaram os problemas da parte das mulheres. As discussões aconteceram mais na própria língua. As traduções dos AIS foram importantes. Os Kanamari escreveram: “Nós não queremos que se esqueça a nossa cultura”. Todas as mulheres agradeceram à ASPODEX, ao COMIN , à SESAI/FUNASA e, especialmente, à CESE que financiou o curso e deu um grande presente com as bolsas com os kit de parteiras. Pela primeira vez houve espaço para as lideranças mulheres se articularem. Uma pequena semente foi lançada. Fundação da Associação do Povo Tâkuna do rio Xeruã No dia 13 de fevereiro reuniram-se quase todos os Kanamari (dos 193 moradores) das três aldeias do rio Xeruã (Flexal, São João e Santa Luzia) da Terra Indígena Kanamari do Médio Juruá. Há tempo queriam fundar a sua própria associação. Os Kanamari participaram sempre das assembleias da Associação do Povo Deni do rio Xeruã. As lideranças, homens e mulheres, prepararam com carinho esse dia especial. Uma casa comunitária foi construída, as mulheres prepararam a caissuma de macaxeira e os caçadores ofereceram duas antas para a comida. O COMIN de Carauari assessorou no início da reunião da fundação o evento explicando o funcionamento de uma associação sem fins lucrativos, a importância da Assembleia Geral, que é a cabeça do corpo de uma associação. Discutiu-se exemplos de associações que não deram certo. Foram eleitos membros de cada aldeia para a diretoria e o conselho fiscal. Os tuxauas das três aldeias deram seu conselho aos jovens Kanamari da diretoria e do conselho fiscal para não errarem e para serem transparentes e honestos. Lideranças mulheres desejaram um bom trabalho e pediram para trabalhar direito para que não se perca a associação, que é um instrumento importante para a melhoria do povo Kanamari do rio Xeruã. Uma liderança destacou que temos que ter união de todos e de todas as Kanamari. Se não houver união a associação não irá funcionar. A ata de fundação da Associação do Povo Tâkuna do rio Xeruã foi assinada por 63 membros fundadores, entre eles muitas mulheres. Todos os participantes da assembleia de fundação dançaram e cantaram a noite toda até o amanhecer. O tuxaua Edimilson disse: “Sempre incentivo a prática das nossas danças, dos nossos cantos e da nossa cultura para que os jovens não esqueçam do nosso jeito Kanamari. Temos agora luz para todos, temos uma antena parabólica e TV , mas não podemos perder a nossa cultura”. Porcentagem e Frações no Curso dos Professores Nos dias 9 a 15 reuniram-se os 28 professores titulares e suplentes Deni e Kanamari para o curso que o COMIN de Carauari-AM oferece com apoio da ONG alemã ARABRAS/OMEL. O tema do curso foi, a pedido dos professores, frações, porcentagem e noções básicas de física. Foi convidado um professor de matemática licenciado em Matemática pela Universidade Estadual do Amazonas para dar as aulas. Havia já cursos anteriores com o tema frações e porcentagem, mas os professores ainda não se sentiam seguros nos cálculos. O professor conseguiu, com seu jeito simples e aulas contextualizadas, capacitar todos os professores de tal forma que fizessem no final do curso cálculos de frações e porcentagem. A alegria de todos os participantes estava escrita nos rostos dos professores que finalmente entenderam esta parte da matemática. Até fora da sala de aula foram feitos cálculos. Os professores descobriram como na sua vida é importante a porcentagem, nos descontos nas compras e nos juros que os bancos cobram. Eles descobriram que a porcentagem aparece permanentemente nos jornais e na TV. Foram feitos cálculos de posse de bola em jogos de futebol. Foram dadas algumas noções básicas de física (massa, força, energia, ondas) e como todas as tecnologias usadas atualmente devem à física o seu desenvolvimento. Exemplos da vida indígena ajudaram a entender fenômenos da natureza. Os pescadores de arco e flecha sabem por tradição a posição do peixe na água, mas agora entenderam por que a posição do peixe é diferente e pode enganar o pescador. Energias diferentes foram estudadas no uso de arco e flecha. Os professores querem mais aulas sobre física no próximo curso. Toda a matéria de física foi novidade para os professores. Foram realmente dias memoráveis na aldeia Flexal.

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