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Artesãos Deni e Kanamari aprendem a arte de marchetaria

Artesãos Deni e Kanamari aprendem a arte de marchetaria
14 de outubro de 2011 zweiarts

A Fundação Luterana de Diaconia (FLD) aprovou um projeto da Associação do Povo Deni do Rio Xeruã, do município de Itamarati-AM, para cinco artesãos indígenas Deni e Kanamari fazerem um curso de fabricação de artefatos de madeiras caídas, no INPA de Manaus. Na VI. Assembleia da Associação Deni, em junho deste ano, foram indicados cinco artesãos das quatro aldeias Deni e um artesão Kanamari, representante das três aldeias Kanamari do rio Xeruã, para serem multiplicadores em suas aldeias. Todos eles se destacaram pelo dom de trabalhar com artesanato de madeira. Eles já confeccionaram animais de madeira, remos, piões tradicionais (teteru) de madeira e pequenas canoas. O COMIN de Carauari-AM assessorou os cinco artesãos na sua viagem a Manaus. Depois de uma longa viagem de barco das aldeias e de Carauari chegaram ao destino final em Manaus. O curso de fabricação de artefatos de madeira foi desenvolvido sob a chancela do projeto INCT Madeiras da Amazônia, sob a coordenação da Dr. Claudete Catanheda do Nascimento (INPA). Foi financiado pela FLD, pelo CNPq e pela FAPEAM, com o objetivo de atender a intensa demanda dos artesãos indígenas Deni e Kanamari do município de Itamarati, no que diz respeito ao conhecimento da tecnologia do trabalho em madeira para melhoria dos produtos confeccionados por eles, como também da técnica de marchetaria no desenvolvimento de artefatos. Como a madeira já era utilizada pelos indígenas optou-se em solicitar os artefatos fabricados por eles antes de participarem do curso, com o objetivo de avaliá-los tecnicamente considerando o produto, o acabamento, as ferramentas e os equipamentos utilizados, para sanar eventuais obstáculos existentes durante seu desenvolvimento sem perder a originalidade das peças e suas características. A partir desta análise selecionou-se uma peça de cada linha de produtos desenvolvida, para resolver os possíveis defeitos no sentido de demonstrar durante o curso a diferença dos produtos após o acabamento. Esta etapa foi executada na ausência dos participantes, antes do início do curso. No sentido de conscientizar e valorizar a matéria-prima obtida da natureza, os artesãos indígenas receberam informações da conservação/educação ambiental e da importância de utilizar a madeira proveniente de árvores caídas naturalmente para a confecção de produtos. Para a segunda etapa do curso foram projetados remos e caixas utilizando técnica da marchetaria. O curso foi ministrado no período de 22 de setembro a 5 de outubro de 2011, no Laboratório de Engenharia de Artefatos de Madeira – LEAM no INPA de Manaus, através de aulas teóricas e práticas. Saber empreender Os Deni e Kanamari pretendem formar grupos de trabalho nas diferentes aldeias para produção de artefatos com o objetivo de comercializá-los. Os artesãos tiveram a oportunidade de participar de um minicurso sobre “saber empreender”. O mesmo foi ministrado pelo SEBRAE de Manaus. O objetivo destes dois dias antes dos trabalhos práticos foi refletir sobre a qualidade do artesanato e em como comercializar os produtos. Os Deni escreveram na sua língua o que eles aprenderam no curso de empreendedorismo. Todos levaram um banner para suas aldeias, com textos bilíngues sobre o aprendizado. Foi feita uma cartilha bilíngue sobre a fabricação de artefatos de madeira. O curso teve teoria e prática! A madeira de árvore caída No Brasil, a madeira de árvore caída já é utilizada por várias comunidades, inclusive em unidades de conservação. O aproveitamento de árvores naturalmente caídas é uma excelente opção para a inserção social de populações da Amazônia com baixo impacto ambiental, para aumentar a renda das comunidades como também a valorização das madeiras amazônicas. Além disso, é um recurso economicamente viável para as comunidades. O desdobro da tora Para não desperdiçar a matéria-prima as toras devem ser desdobradas de acordo com o produto a ser confeccionado. Primeiramente tiram-se as costaneiras (cascas). Depois preparam-se as peças de madeira de acordo com o produto, fazendo o possível para utilizar a madeira do alburno quando existe quantidade significativa da espécie. A secagem A secagem da madeira é um dos parâmetros fundamentais a ser levado em conta antes da fabricação de quaisquer produtos. Ela deve estar bem seca, para evitar problemas futuros. A utilização da madeira verde pode ocasionar no produto beneficiado defeitos que inviabilizam sua comercialização em razão de rachaduras, trincas, empenamento e descolagem do material. O acabamento Para alcançar um bom acabamento esta etapa exige muita paciência do artesão, de modo especial sua sensibilidade para sentir quando a lixa deve ser trocada. O lixamento deve ser realizado no sentido longitudinal da peça de madeira, até as peças ficarem uniformes e bem lisas (macias). No acabamento da madeira podem ser usados produtos artificiais, como seladores, vernizes e tintas, ou naturais, como a cera de carnaúba. Dependendo do acabamento a qualidade da peça da madeira será melhor ou pior. A marchetaria Consiste no recorte de elementos do material a ser utilizado (pedra, madeira, metal) e a posterior incrustação nas cavidades abertas nas superfícies maciças, com auxílio de formões ou ferramentas similares para a fixação com cola. A marchetaria é a arte de ornamentar as superfícies planas como móveis, painéis, pisos e teto. De acordo com a técnica utilizada pode-se construir objetos tridimensionais, esculturas, utilitários, jóias, etc. Para a utilização desta técnica com a madeira é importante selecionar espécies de densidade diferentes, sempre madeira branca com madeira escura alternada, para melhor aderência dos materiais. Os artesãos indígenas gostaram muito do curso e querem adquirir pequenas ferramentas para suas atividades nas aldeias. No encerramento, todos agradeceram à Dra. Claudete e aos dois técnicos pela dedicação dada a eles durante o curso. Na realidade houve uma troca de experiências. O artesanato que os indígenas tinham levado da aldeia foi aperfeiçoado e novas técnicas fizeram com que fossem feitos produtos de madeira bem elaborados. Os técnicos do INPA ficaram surpresos com a habilidade dos artesãos em observar técnicas novas e, quase imediatamente, colocar em prática o aprendizado. Depoimentos dos artesãos “O curso foi importante, aprendi muito. Planejar para vender. Empreendedorismo, pensar o processo e a qualidade que a gente faz é importante.” (Hizima Hava Deni) “Quero poder levar o material que a gente fez para a comunidade. Quero ajudar a deixar nosso produto mais bonito e fazer curso na minha comunidade para ensinar outras pessoas fazer também.” (Vamuna Hava Deni) “Eu gostei muito. Eu fazia artesanato com sementes, colar. Vou continuar a fazer. Agora vou trabalhar também com madeira e marchetaria.” (Nuhari Kuniva Deni) “A explicação sobre acabamento foi muito boa. Gostei muito do treinamento e da atenção dos técnicos de como fazer as coisas. Quero poder melhorar nossa comunidade.” (Shakeravi Minu Deni) “Espero que a gente consiga um lugar para uma pequena oficina de trabalho. Quero ajudar a organizar a nossa comunidade para produzir e vender nossos produtos de boa qualidade. Quero ajudar a ‘ levantar’ a comunidade.” (Ninha Kanamari) Os indígenas, a Associação Deni e o COMIN de Carauari-AM agradecem à Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e às instituições de Manaus pela oportunidade de poderem participar deste curso.

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