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VI ENCONTRO CONTINENTAL DE TEOLOGIA ÍNDIA: ENTRE PUPUSAS E TAMALES

VI ENCONTRO CONTINENTAL DE TEOLOGIA ÍNDIA: ENTRE PUPUSAS E TAMALES
27 de janeiro de 2010 zweiarts

Entre os dias 30 de novembro a 05 de dezembro de 2009 estiveram reunidos em torno de 220 indígenas e 30 pessoas solidárias à causa indígena de todos os países do Continente Americano, na cidade de Berlin, província de Usulután, em El Sanvador, para o VI Encontro Continental de Teologia Índia com a temática Mobilidade/Migração Desafio e Esperança para os Povos Indígenas. O encontro foi coordenado pela AELAPI (Articulação Ecumênica Latino-Americana de Pastoral Indígena) e contou com apoio e representação das pastorais indígenas da Igreja Católica, das Igrejas-membro do CMI e CLAI, de Igrejas Pentecostais e de Tradições Indígenas não-cristãs dos diversos países.

Pelo Brasil, havia uma grande delegação de indígenas e de pessoas solidárias de todas as regiões representando as igrejas Católica, Metodista, IECLB_Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Assembléia de Deus e Tradições Indígenas. Pelo COMIN/IECLB a delegação participante foi: Pastora Cledes Markus, Teólogo Rogério Link e a Pedagoga indígena Kaingang Sara Sales (participante do Curso Lato Sensu “Educação, Diversidade e Cultura Indígena, que está sendo realizado em parceria EST/COMIN). Localizada no cume de uma montanha, de clima agradável, a cidade de Berlin acolheu os participantes com muito amor! Praticamente toda a cidade se mobilizou para o evento. Inclusive foram mobilizadas pessoas de cidades circunvizinhas. A maior parte dos participantes foi alojada nas casas dos “Berlienses”, o que possibilitou conhecer um pouco a realidade local e compartilhar momentos à mesa. Os diferentes tipos de pupusas (prato típico em El Salvador, feito a partir de uma massa de milho ou arroz e recheada com queijo, feijão ou loroco, um vegetal local) e tamales (pamonha) fizeram a alegria dos cafés da manhã, acompanhados sempre por um chocolate quente artesanal. Esse tipo de comida, herança dos povos indígenas da região, demonstra quanto nossos países estão permeados pelas culturas pré-colombianas; é a cultura indígena sobrevivendo e moldando nossas sociedades.

Assim como a acolhida, o encontro também transcorreu de forma harmoniosa e cheio de celebrações, com simbologia e práticas de fé dos diferentes povos indígenas. De forma celebrativa, levantou questões pertinentes para a vida de fé na América Latina. Em primeiro lugar, não se trata de um encontro dos diferentes tipos de teologias indígenas, como o título do encontro poderia dar a entender, mas sim, de teologia cristã feita a partir da experiência de vida dos povos indígenas cristãos. O encontro, nesse sentido, reuniu formas diferentes de viver a fé, transformando-se, assim, num grande encontro ecumênico, no qual os indígenas cristãos demonstraram aos cristãos não-indígenas que eles podem ser cristãos e continuarem a ser indígenas.

Preocupados justamente em poderem professar a fé cristã e estarem inseridos na sociedade maior sem deixarem de ser indígenas, é que o tema sobre migração foi proposto. O país de El Salvador, nesse sentido, não foi escolhido por acaso, mas por ter um alto nível de emigração. Quase metade da população desse país vive no exterior, principalmente nos Estados Unidos.

A dinâmica adotada na abordagem da temática da mobilidade/migração foi a de ouvir os testemunhos indígenas e evidenciar o diálogo entre a teologia indígena e a teologia cristã. Além disso, optou-se em trabalhar em grupos por regiões para identificar os principais aspectos regionais da mobilidade e depois apresentar em plenária aberta a debates. Os grupos foram identificados pelas regiões do Cone Sul, Amazônica, Andina, Mesoamérica e Caribe. Houve também painéis com os aportes de especialistas no tema.

Para compreender e iluminar esta realidade de migração, na sequência, foram compartilhados mitos, histórias, sonhos e ritos indígenas que se referem à mobilidade. Também foram trazidas as interpretações, as atualizações e as mensagens destes para o contexto atual da migração indígena. Ainda foram trazidos os aportes da antropologia e da missiologia a partir de Clodomiro Siller e Nicanor Sarmiento. As reflexões sobre Bíblia e Migração foram realizadas por Mons. Rodolfo Valenzuela, do CELAM; pela Teóloga María Chávez, do CMI e pela biblista Margot Bremer, do CONAPI (Paraguay). Nos encaminhamentos finais foram elaborados compromissos e conclusões em nível regional e continental. O encerramento aconteceu com uma celebração litúrgica.

Das raízes de suas próprias culturas, os indígenas compartilharam mitos que tematizam a migração como uma forma de iluminar a reflexão inter-cultural da problemática migratória. No transcorrer do encontro duas formas de migração foram constatadas: a cultural, na qual os povos migram para outra cultura; e a territorial, na qual as pessoas deixam suas casas, suas terras, seus países em busca de alternativas de vida em outro local. Essas duas formas de migração podem ser voluntárias ou forçadas. Voluntária quando o povo assume ele mesmo o destino da migração. Neste caso, a questão está no “direito de migrar e de não migrar”, como foi constatado durante o encontro. Todos devem ter o direito à livre escolha, pois o fenômeno migratório faz parte da condição humana. No entanto, constatou-se que a maior parte dos movimentos migratórios não é voluntária mas criminalizada, induzida por fatores como a falta de terra, a falta de recursos ecológicos para viver de forma tradicional, e as políticas públicas desfavoráveis ao modo tradicional de viver dos indígenas. Assim, os participantes do encontro solicitaram que as igrejas se comprometam em acompanhar os migrantes no processo migratório e se engajem na luta pelos seus direitos e também contra a criminalização dos migrantes.

Antecedeu o VI Encontro Continental de Teologia Índia, o I Encontro de Teólogas. Várias mulheres de diversos países da América Latina se reuniram para criar uma rede para pensar a teologia indígena a partir da experiência das mulheres. Nesse sentido, seguindo o espírito do VI Encontro, poder-se-ia falar que as mulheres propõem uma teologia das pupusas e dos tamales, uma teologia feita a partir das práticas das mulheres, que estão também associadas à mesa, ao compartir da mesa…

Ao final do encontro, os evangélicos presentes, com o apoio explícito do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), comprometeram-se em organizar o próximo encontro, pois até o momento todos os encontros vinham sendo organizados pelas pastorais da Igreja Católica. Nesse sentido, há esperanças de que a organização do encontro traga maior visibilidade das igrejas protestantes em relação à proposta de uma teologia indígena.

Como conclusão do encontro, pode-se dizer que, no processo de colonização, muitos povos foram forçados a vivenciar mudanças em suas tradições. As igrejas cristãs contribuíram muito nas perdas que ocorreram nas expressões religiosas e culturais indígenas. Hoje a experiência de muitos povos indígenas é a de viver e afirmar suas expressões religiosas e culturais tradicionais, mas também viver intensamente e afirmar a tradição cristã. Nos indígenas as duas tradições podem dialogar e conviver. Por outro lado, a pergunta que é feita por religiosos cristãos para os indígenas é “como viver concomitantemente o cristianismo e as expressões religiosas tradicionais?! Neste sentido, os indígenas que participaram do encontro reafirmaram que o mais importante nesse processo é o diálogo entre as tradições indígenas e a tradição cristã. E que este processo dialógico é de acolhida, respeito e partilha mútua. É construção e reconstrução que se faz no cotidiano, enquanto se continua comendo pupusas e tamales em terra estranha! Terra que vai deixando de ser estranha na medida em que “compartilhamos à mesa”.

Entre os encaminhamentos foi elaborada uma Mensagem do Evento, que será amplamente divulgada. Foram elaboradas propostas em nível regional e continental:

* Em nível de CONE SUL se estabeleceu realizar um encontro sobre a realidade mais evidente nesta região que é da migração para espaços urbanos. A coordenação regional irá articular este encontro. O COMIN/IECLB se comprometeu em contribuir com as reflexões e a articulação da participação indígena do Brasil neste evento.

* Em nível continental se estabeleceu a realização de um novo encontro. O CLAI se comprometeu em organizar o evento e articular as distintas Igrejas-membro. Além disso, compromissos em nível continental foram estabelecidos:

* Dar continuidade ao diálogo entre as teologias cristã e indígena.

* Empenhar-se nos compromissos assumidos nos encontros continentais anteriores;

* Divulgar e exigir a promoção da Declaração da ONU sobre Direitos dos Povos Indígenas, a Convenção 169 da OIT e os artigos das legislações internacionais e nacionais relativos aos povos indígenas;

* Reforçar a luta continental pela defesa da terra, do território, da cultura, da espiritualidade indígena;

* Acompanhar os indígenas migrantes (para cidades ou outros países) fortalecendo o apoio às suas lutas. As principais recomendações:

* Dar continuidade ao diálogo entre as teologias cristã e indígena.

* Acompanhar os indígenas migrantes (para cidades ou outros países) fortalecendo o apoio às suas lutas.

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