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Pupykary Kyynyry: Festa Tradicional Apurinã

Pupykary Kyynyry: Festa Tradicional Apurinã
25 de agosto de 2010 zweiarts

No dia 14 de agosto de 2010 ocorreu, na aldeia Nova Vista, no município de Pauini, uma festa tradicional Apurinã que, na língua apurinã, se chama Pupykary Kyynyry. É conhecida localmente como Xingané. Parece que a palavra provem do apurinã xikane que significa cantar, e é utilizada regionalmente por indígenas e não-indígenas. Xikane também é o substantivo para a ave tucano, talvez fazendo referência ao canto dos tucanos no final da tarde. Outra palavra utilizada no âmbito da festa é serena, dançar. Faz referência a uma parte importante da festa na qual os participantes dançam puxados por um cantor. A dança pode ser em fila indiana com passos diferenciados, dependendo do ritmo da música, ou em duas filas, uma de homens e outra de mulheres. No caso das duas filas, elas se posicionam uma de frente uma para a outra. Os participantes dançam para frente e para trás. Não observei se há outros tipos de posicionamento. As músicas e as danças fazem referência a animais e plantas, como a sucuri e o buriti.

Estiveram presentes diversas famílias Apurinã de diferentes aldeias dos municípios de Boca do Acre e Pauini. Essa festa tradicional é organizada por ocasião do falecimento de alguém da aldeia É, portanto, uma festa ritual em memória do falecido. Ao todo, são organizadas três festas. A primeira festa é realizada para “expulsar o morto” da aldeia, para que ele não assombre os familiares. A segunda festa, geralmente no ano seguinte, é realizada para “alimentar o morto”. Nessa ocasião, são depositados alimentos no local do sepultamento. A terceira e última festa é a conclusão de todo o processo e “o morto é encaminhado”, ou seja, “ele agora sabe que morreu” e “não vai mais interferir na vida dos vivos”. A festa do dia 14 de agosto era a terceira organizada para a despedida de uma liderança. A partir daí, a família poderia seguir sua rotina com as obrigações cumpridas para com o falecido. No entanto, deve ser dito também que essa festa não é somente um ritual fúnebre. É também um momento no qual as pessoas se reencontram, as relações de parentesco são reafirmadas e as alianças são construídas.

A alimentação tradicional da festa é peixe com beiju. Também pode ser carne de caça. Na semana que antecedeu a festa do dia 14, as lideranças que a organizaram convidaram os moradores da aldeia para uma pesca com tingui. Os peixes foram moqueados e o beiju preparado. Os Apurinã afirmam que se deve ter muito alimento para que os convidados não passem necessidade. Também foi preparada caiçuma de mandioca e de banana. A alimentação foi distribuída durante a festa, em intervalos periódicos. A caiçuma é distribuída durante a noite, pois a dança dura a noite toda. Dessa forma, um Apurinã pode afirmar: Erekary pupykary kyynyry; atha aserena, axikane, anipukutary ximaky eruty kumerykate (A festa apurinã é boa; nós dançamos, cantamos, comemos peixe moqueado com beiju).

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