Seis Deni se deslocaram das suas aldeias do rio Xeruã/Itamarati-AM para participar da despesca de pirarucu da colônia Z 32 dos pescadores de Maraã/AM, no rio Japurá. Os Deni saíram dia 22 de outubro das suas aldeias do rio Xeruã e chegaram de volta no final de novembro. O intercâmbio com a reserva de desenvolvimento sustentável de Mamirau faz parte do projeto manejo de lagos na área Deni, apoiado pelo EED/Alemanha e pela FDL/IECLB. Havia uma seca na região nunca vista antes. Mas, apesar de todas estas dificuldades, os Deni conseguiram observar in loco todas as etapas da despesca dos pirarucus.
A partir do dia 16 de novembro chegaram cada vez mais famílias de pescadores da cidade de Maraã/AM, com barcos e canoas. A despesca começou nos lagos. Dois barcos grandes, compradores de pirarucu, esperavam os pirarucus no rio Japurá. O IBAMA deu um prazo até o dia 30 de novembro para o término da pesca da cota de 3 000 peixes da espécie, adultos de manejo. Os Deni foram de canoa para os lagos para acompanhar o início da pesca. Num flutuante perto do canal do lago eles podiam observar os tratadores de peixe e os monitores que registraram o peso, o comprimento, o gênero, o tipo de malhadeira e a colocação de lacres do IBAMA e do Instituto de Mamirauá.Até o dia 12 de novembro ainda não tinha chovido e a pesca era impossível. Uma barragem foi feita com a ajuda dos Deni, mas ela arrombou. Os Deni batiam nas árvores e cantavam para que a chuva chegasse. E ela chegou e encheu o canal do principal lago rapidamente.
O dia 18 de novembro foi o ponto alto da viagem. Os Deni acompanharam mais de 300 pescadores no Lago Fundo, na despesca de pirarucu. Neste dia pescaram 400 pirarucus, de malhadeira e arpão. Os pescadores sofriam na subida pelo canal. Mesmo tendo mais água, ainda assim estava difícil de se movimentar nas canoas. Compradores e apreciadores de pirarucu em Manaus e em outras cidades do Brasil não podem imaginar o sacrifício destes pescadores. Os pirarucus são vendidos inteiros eviscerados. Os tratadores treinados levam 10 minutos para tratar um pirarucu. O peso médio de cada pirarucu foi de 50 a 60 kilos. Um pescador trouxe um pirarucu de 102 kilos. Os pescadores têm de levar os pirarucus do lago até o flutuante do tratamento em 3 horas. Este é o tempo máximo para que a qualidade do peixe não seja comprometida.
Os Deni observaram todas as etapas da despesca com muito interesse. Eles preencheram algumas fichas de monitoramento de pirarucu como treinamento. A equipe Deni já tinha participado no ano passado de um curso de monitores na colônia dos pescadores em Maraã. Os monitores explicaram que o monitoramento não é somente importante no local da pesca, mas através do monitoramento é possível saber se a quantidade capturada está aumentando ou diminuindo, se o tamanho dos peixes pescados aumentou ou diminuiu, e se os peixes estão mais gordos ou mais magros em cada local. Um monitoramento mal feito pode causar muita confusão no momento de avaliar e analisar as informações. Isto pode levar a conclusões erradas e, assim, prejudicar o manejo de espécie.
Os Deni notaram que é importante ter higiene em todas as etapas, higiene no material da pesca, na canoa, na higiene pessoal, roupa adequada e água tratada. O conceito de qualidade é muito amplo e envolve satisfazer as expectativas do consumidor, segurança alimentar, composição definida, agregação de valor à produção e exigências da legislação. Os Deni observaram que os pescadores seguem na prática o que se falou na oficina de qualidade do peixe, na qual eles participaram antes de se deslocar para os lagos. “Práticas de higiene que devem ser seguidas desde a captura do pescado até a venda ao consumidor final. Os objetivos das “Boas Práticas de Higiene” são evitar ocorrência de doenças transmitidas por alimentos e fazer com que este se conserve por mais tempo”. A principal causa de deterioração do pescado é a multiplicação de microorganismos, quando os alimentos são mal conservados. O pescado é um excelente alimento para os microorganismos, mas eles só se multiplicam quando em condições favoráveis de temperatura.
A visita à Colônia dos Pescadores de Maraã foi de suma importância para os Deni. Eles puderam ver in loco como será o trabalho deles no manejo de lagos no final do ano de 2011. Valeu o esforço de todos para a realização desta visita. Somos gratos aos pescadores de Mamirauá e ao Instituto de Mamirauá que possibilitou este intercâmbio. A família do vigia do flutuante do Lago Fundo tratou-nos como se fôssemos da família dele. Foi feito convite para o técnico em pesca, Ruiter Braga da Silva do Instituto de Mamirauá e para um contador de pirarucu certificado, para participarem do curso de prova final para os contadores Deni, nos lagos do rio Xeruã. Esta prova final será realizada em julho de 2011 em parceria com a OPAN.
O presidente da Associação Deni, Vabishi Varasha Deni, participou do curso e expressou sua gratidão aos apoiadores do projeto do EED e da FLD e satisfação com o trabalho do COMIN desenvolvido neste projeto de manejo: “Participamos do manejo de pirarucu junto com os pescadores de Maraã. Foi uma seca muito grande, por isso, ajudamos a fazer uma barragem. Mas ela não deu certo. Ficamos duas semanas no flutuante da vigilância. Quando começou a chover saiu a despesca de pirarucu e nós pudemos ver como se pesca, se trata o peixe, se faz o monitoramento, se coloca o lacre e se leva o peixe para o barco do comprador. Vamos levar a nossa experiência para as comunidades Deni. Para nós foi muito importante participar da despesca. Agora sabemos como trabalhar no futuro no rio Xeruã, no manejo de lagos”.
O manejo de lagos na colônia dos pescadores Z 32 de Maraã na reserva de desenvolvimento está dando muito certo. O ex-presidente “Luisão” falou aos associados reunidos na entrada dos lagos durante a 1ª reunião para a pesca do pirarucu no complexo do Lago Preto no dia 26 de outubro de 2006: ” Não existe mais aquela época de patrão. Agora o patrão é cada um de nós que juntos através do manejo poderemos conservar a natureza e dela extrair o nosso sustento… O futuro dessa reserva é vocês.” Os Deni já entraram no caminho rumo a sua autonomia na ocasião da demarcação de sua área em 2003. O projeto de manejo de lagos é mais um passo a uma autonomia cada vez maior.