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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE E CULTURA INDÍGENA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE E CULTURA INDÍGENA
23 de fevereiro de 2010 zweiarts

RELATO DA TERCEIRA E ÚLTIMA ETAPA

Durante os dias 18 a 30 de janeiro, foi realizada a terceira e última etapa do curso de pós-graduação Lato Sensu Educação, Diversidade e Cultura Indígena nas dependências da Faculdades EST em São Leopoldo/RS.

Esta especialização é uma parceria entre COMIN e Faculdades EST, e tem como objetivo qualificar educadoras/es, lideranças e profissionais para práticas em educação na diversidade, com ênfase nas culturas indígenas.

A terceira etapa contou com os vinte e quatro participantes inscritos entre os quais nove homens e quatorze mulheres, sendo destes um homem e uma mulher Kaingang e duas mulheres Xokleng. Assim, este curso chega ao final sem desistências.

O grupo apresenta uma diversidade muito grande, seja em termos de origem étnica (além de indígenas, descendentes de italianos, alemães, poloneses, russos, judeus e afro-brasileiros); de localização geográfica (estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo) e de formação (História, Teologia, Arquitetura, Assistência Social, Artes, Pedagogia, Matemática, Agronomia). Esta diversidade foi avaliada como positiva, pois proporcionou riqueza nas reflexões. O respeito mútuo e a acolhida dos diferentes olhares e perspectivas marcaram o grupo. Um diferencial foi a presença indígena que possibilitou a interlocução, apontando e desafiando de forma direta para as especificidades culturais que precisam ser consideradas nos processos educativos.

Em relação ao currículo, nesta terceira etapa, tivemos cinco disciplinas com 135 horas/aula:

1. Políticas Públicas e os Povos Indígenas.

2. Expressões simbólico-culturais indígenas.

3. Pedagogias e alteridade na diversidade.

4. Questões Contemporâneas das Religiões.

5. Ética Contemporânea.

 

Além dos conteúdos abordados pela competência dos docentes, diversas atividades relevantes foram desenvolvidas, das quais mencionamos algumas:

a) a socialização dos projetos pedagógicos da disciplina de “Pedagogias e alteridade na diversidade” em que cada participante, entre a segunda e terceira etapa, teve que elaborar e aplicar uma prática pedagógica em seu contexto de trabalho que considerasse a alteridade na diversidade. Todos os projetos merecem reconhecimento, mas, como ilustração, mencionamos o do professor Vitalino e da professora Cleiri, ambos do município de Planalto, que trabalharam a temática do meio ambiente e a problemática da presença do lixo plástico (lixo produzido pelos não indígenas) numa aldeia Kaingang. O tema trabalhado incluiu a cosmovisão e a concepção indígena sobre a natureza, as implicações e conseqüências do lixo no meio ambiente e a necessidade de repensar a forma como se trata a mãe terra, os padrões de consumo e a reciclagem do lixo. Na prática foram envolvidas pessoas sábias da comunidade indígena, setores como FUNASA, FUNAI e prefeitura. Entre as atividades desenvolvidas estão a revitalização e divulgação da concepção tradicional indígena de natureza e meio ambiente; construção de postos de recebimento e coleta de lixo na aldeia; o recolhimento do lixo nas rodovias cerca da Aldeia; a realização de palestras por alunas/os indígenas em escolas não indígenas. O projeto se estendeu para todo o município de Planalto, envolvendo escolas, centros culturais e outras instituições. Neste sentido, é muito auspicioso perceber que todo um município se articulou a favor do meio ambiente a partir da iniciativa de uma escola indígena, motivada por uma atividade deste curso;

b) outra atividade de destaque foi a presença do grupo de canto e dança Guarani nas dependências da Faculdades EST. Foi uma atividade da disciplina de “Expressões simbólico-culturais indígenas”, mas aberta para o público em geral. O evento contou com mais de 60 participantes da comunidade de São Leopoldo e estudantes de Mestrado da Faculdades EST. Foi um importante momento de aprendizagem e socialização da cultura indígena Guarani;

c) nesta etapa os participantes apresentaram seu projeto de pesquisa de monografia para todo o grupo. Foi importante momento de partilha, de receber incentivo e sugestões por parte dos colegas. A sugestão é de realizar um seminário, após o término do curso, em que as pesquisas serão socializadas;

d) a presença de docentes indígenas com sua perspectiva específica, também nesta etapa do curso, foi positiva e indicada como prática de futuros cursos;

e) nesta etapa houve um momento de avaliação do curso como um todo em que as sugestões foram encaminhadas para a coordenação como proposta para uma segunda edição do curso. Estas indicações cooperam para a melhoria da qualidade da formação.

Nos relatos avaliativos desta etapa destacamos alguns depoimentos significativos:

Inês, historiadora, professora universitária relata: A terceira e última etapa do curso foi muito positiva, no contexto da caminhada que estamos realizando. A questão das políticas públicas para os povos indígenas trouxe muitos elementos para minha compreensão da temática indígena na contemporaneidade. A participação de indígenas nesta etapa foi extremamente importante. A disciplina “Expressões simbólico-culturais” foi significativa por trabalhar com o pensamento indígena, contribuindo para a ampliação de nosso olhar antropológico. A apresentação dos trabalhos educativos e de pesquisa pelos participantes foram momentos de valiosa troca e exercício coletivo de pensar. As disciplinas finais “Questões Contemporâneas das Religiões” e “Ética Contemporânea”, do núcleo comum de disciplinas, ofereceram subsídios teóricos para pensar as questões éticas envolvidas nas relações interétnicas e envolvidas na questão dos povos indígenas.

Adriane, assistente social, que trabalha num projeto social de uma prefeitura escreve: Esta terceira etapa do curso foi muito especial. As disciplinas foram excelentes e de muita qualidade. Observa-se um grande crescimento qualitativo da turma. Pode-se observar isto durante as aulas e apresentações de trabalhos. Nota-se que há engajamento e dedicação ao tema. Fica como sugestão que ocorram outras edições deste curso e também a possibilidade da ocorrência de mestrado profissional na área de Diversidade Cultura e Educação, com possibilidade de bolsa aos que se mantiverem trabalhando na área. O COMIN, como sempre, nos recebeu muito bem.

Bruno Ferreira, historiador, indígena Kaingang afirma: A terceira etapa me mostrou as diversas possibilidades de interação com as mais diferentes culturas e que precisamos construir juntos uma nova proposta de vivência na sociedade como um todo. As mudanças culturais são inevitáveis partindo da mobilidade cultural. O desafio é como produzir uma nova prática. O curso foi e é um grande exemplo que é possível deslumbrar novos horizontes. É importante dizer que para a minha atuação com os professores é muito útil, conseguirei melhorar a minha relação com as pessoas que apostam numa mudança de comportamento em relação às comunidades indígenas. Mas o grande aprendizado é que existem muitas possibilidades em relação às comunidades indígenas e que juntos construiremos uma nova proposta.

Enquanto coordenação do curso percebemos que o fato de não haver desistências é indicativo do interesse e engajamento do pessoal na causa indígena, e da intenção de buscar mais formação nesta área. Esta etapa também reafirmou que o curso traz reflexões em diferentes âmbitos e áreas do conhecimento o que permite uma abordagem mais ampla da temática e realidade indígena. A participação de docentes e discentes indígenas apresentou um diferencial importante para cada participante do grupo com possibilidades de interação e interlocução direta com estes povos. O curso é uma construção coletiva e conjunta de conhecimentos que resulta em grande riqueza.

Concluímos esta terceira etapa com alegria por cada um/a dos/as participantes e docentes que contribuíram no curso e na certeza do engajamento e do compromisso do grupo pela causa indígena.

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