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Povos Apurinã e Jamamadi participam de Oficinas de Capacitação em Direitos Humanos e Elaboração e Gestão de Projetos

Povos Apurinã e Jamamadi participam de Oficinas de Capacitação em Direitos Humanos e Elaboração e Gestão de Projetos
5 de janeiro de 2009 zweiarts

Entre os dias 19 a 22 de dezembro de 2009 foram realizadas duas oficinas de capacitação com o povo Apurinã e Jamamadi da região de Boca do Acre, no Amazonas. Entre 19 a 20, ocorreu a Oficina de Direitos Humanos e Violência e, entre os dias 21 a 22, a Oficina de Formação para Líderes de Associação, com enfoque na elaboração e gestão de projetos. A oficina sobre direito humanos contou com a presença de lideranças locais e das mulheres, que normalmente não são engajadas nesse tipo de atividades. Participaram em torno de 50 pessoas advindas das aldeias Santo Antônio, Camicuã, Jagunço II e Goiaba. A oficina para liderança visou os dirigentes das associações indígenas locais, e compareceram os representantes da APTIKAM (Associação Pupykary da Terra Indígena Kamicuã) e da OPIAJABAM (Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre, Amazonas), bem como as lideranças da aldeia Camicuã.

A Oficina de Direitos Humanos e Violência foi montada para capacitar as comunidades indígenas apurinã e jamamadi quanto à discussão em torno dos direitos humanos, bem como aprofundar questões práticas relativas aos direitos humanos na vida diária das comunidades, como, por exemplo, a questão da violência em geral e, mais especificamente, da violência contra mulheres.

A discussão sobre direitos humanos insere-se, assim, na busca dos indígenas por formação que lhes propicie o conhecimento e a valoração como pessoas e cidadãos e, ao mesmo tempo, possibilite um melhor relacionamento interpessoal nas comunidades. Por um lado, os indígenas percebem que os direitos humanos lhes servem como uma ferramenta para o enfrentamento das questões diversas com a sociedade envolvente. Por outro lado, preocupam-se com o domínio da linguagem mais inclusiva que, além de interferir no pessoal, é exigência das agências de cooperação. Cada vez mais estão observando que não é possível fazer e executar um projeto sem levar em conta as questões de gênero. Em âmbito mais comunitário, sobressaem-se as questões de violência no cotidiano, principalmente as decorrentes pelo consumo de álcool e de drogas. Esta oficina sobre direitos humanos buscou dar capacitação e aumentar a auto-estima das pessoas presentes ao mesmo tempo em que teve a intenção de fazê-las refletirem sobre suas próprias posturas discriminatórias.

O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos chamou sobremaneira a atenção dos participantes: “Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião” . Esse artigo foi ressaltado por eles, pois diz respeito à sua experiência ordinária de vida. Atualmente, muitos indígenas frequentam igrejas como a Assembléia de Deus, a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Católica. Também é expressivo o número de daimistas. Além disso, outros tantos buscam reafirmar a religiosidade tradicional, com as danças, cantos e xamanismo. Os próprios participantes da oficina refletiam essa diversidade e os desdobramentos que dela advêm. Nesse sentido, surgiram muitas afirmações dos trabalhos em grupos que asseveravam o direito a uma religiosidade tradicional própria ou mesmo o direito de ser cristão sem deixar de ser indígena, sem deixar a cultura tradicional. O parágrafo que segue é o resultado elaborado por um dos grupos da oficina:

“Os povos indígenas já possuem sua própria religião que são suas festas tradicionais, seus costumes, suas bebidas, suas crenças, suas línguas e seus pajés; isso é a religião do povo indígena. Não queremos, no entanto, dizer que o índio não pode ser padre ou pastor, pois todos têm direito à liberdade. O que queremos dizer é que todos os povos indígenas têm uma cultura própria que deve ser respeitada”.

A Oficina de Formação para Líderes de Associação, por sua vez, foi concebida para empodeirar as lideranças Apurinã da região de Boca do Acre a fim de qualificar as atividades de suas associações. Nos últimos anos, o movimento indígena institucional tem passado por uma profunda crise, advinda, principalmente, da má administração e da falta de transparência na execução de projetos. Em decorrência, a atenção das agências financiadoras tem se voltado para as próprias comunidades; o que, por sua vez, faz multiplicar as associações locais. Além disso, os povos indígenas da região também estão na expectativa de receberem fundos advindos das ações mitigatórias da pavimentação da Br 317. Dessa forma, a pedido dos próprios indígenas, com o intuito de capacitar as lideranças locais para o exercício da administração e da execução de projetos, a oficina de formação foi planejada e executada.

Nesse sentido, além de discutir questões éticas, a postura das lideranças frente à comunidade, transparência com as contas da associação, formulação de projetos, execução de projetos, prestação de contas e planejamento, as lideranças puderam experimentar na prática a elaboração em conjunto de um pequeno projeto para ser executado durante o primeiro semestre de 2010. O referido projeto foi pensado para fazer intervenção na área de revitalização cultural e melhoria da auto-estima Apurinã. O objetivo é confeccionar camisetas com frases em língua apurinã. Em março de 2010, o projeto será rediscutido com a comunidade da Aldeia Camicuã para ser executado, em conjunto com a APTIKAM, em junho e julho.

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