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Oficina de Capacitação de Líderes da Associação Deni

Oficina de Capacitação de Líderes da Associação Deni
27 de agosto de 2009 zweiarts

Nos dias 9 a 11 de agosto de 2009 realizou-se na aldeia Deni Boiador uma oficina para lideranças da Associação do povo Deni do rio Xeruã e lideranças Kanamari do mesmo rio, interessados na fundação de sua própria associação. A oficina foi realizada pelo COMIN de Carauari, com o apoio do EED da Alemanha e da Fundação Luterana de Diaconia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Como assessor foi convidado Antônio Pereira do Nascimento, integrante da equipe do CIMI de Tefé-AM, que tem vasta experiência com associações indígenas e um bom conhecimento do povo Deni. Participaram da oficina todos os membros da diretoria da Associação do povo Deni do rio Xeruã, o conselho fiscal da Associação e os principais líderes das quatro aldeias Deni e das três aldeias Kanamari do rio Xeruã do município de Itamarati-AM. A Associação tem três anos de existência. Sentiu-se a necessidade da realização de uma oficina com as lideranças para aprofundar os conhecimentos sobre o bom funcionamento de uma associação, visando o início do projeto de manejo de lagos Deni, com a retirada ordenada de uma parte dos pirarucus daqui a três anos.

Esta oficina foi idealizada pelo Povo Deni juntamente com o COMIN de Carauari, em decorrência do processo de capacitação para a realização do manejo de lagos dentro da terra do Povo Deni do rio Xeruã (Projeto de Manejo de Lagos do COMIN-Carauari/EED/FLD). A mesma é apenas um dos elementos a serem utilizados neste processo de formação de lideranças e do povo em geral para a implementação do manejo dos lagos.

Dentro do contexto atual, as atividades realizadas pelas ONGs nas terras indígenas Deni e Kanamari do rio Xeruã cada vez mais tem se estreitado em parceria entre COMIN, ASPODEX e CIMI. Vale ressaltar também que a OPAN retornou com suas atividades nesta região.

O manejo de lagos em si vem sendo pensado já há alguns anos e determinadas atividades já foram realizadas nesta perspectiva: o mapa dos lagos da Terra Deni pelo CIMI-Tefé, a intensificação da vigilância (PPTAL, FUNAI/OPAN), cursos de leis indigenistas/meio ambiente e de manejo de lagos, promovidos pelo COMIN de Carauari. Os próprios Deni já assumiram a proteção da terra, das praias e dos lagos. Resumindo, pode-se dizer que todo este processo formativo e informativo só tem contribuído para o fortalecimento da organização do povo desta região. Da oficina participaram 32 lideranças indígenas Deni e Kanamari do rio Xeruã.

Os objetivos da oficina foram: 1. Capacitar líderes indígenas para coordenar e administrar uma associação ou empreendimentos com o mesmo caráter dentro de um mundo globalizado. 2. Fortalecer a instituição ASPODEX através de sua diretoria executiva em suas competências administrativas. 3. Fomentar as lideranças com maior conhecimento da funcionalidade das organizações governamentais e não governamentais.

A dinâmica utilizada na apresentação dos participantes motivou-os a expressarem seus anseios e suas perspectivas de aprendizagem. Foi comunicado o porquê de se escolher a palavra OFICINA em vez de CURSO, como de costume. A oficina tem um caráter mais participativo, de envolvimento dos participantes, um produto inicial inacabado e um possível produto final construído em conjunto. Os sub-temas estudados foram: • O que é ser Líder • Tipos de lideranças • As funções de cada membro garantidas no estatuto • O que é uma associação? • Noções básicas de secretaria • Formas de tratar as autoridades • Importância de pagar os tributos ao governo e declarar o Imposto de Renda da Pessoa Física e Jurídica

Ao final de cada sub-tema estudado, foram feitos trabalhos de grupos com o intuito de melhorar o entendimento de cada um dos participantes na sua forma prática. Foi emocionante escutar os relatos das lideranças Deni e Kanamari sobre como eles entendiam antigamente a função de um bom líder. Saravi Deni contou da sua própria experiência quando relatou que ele achava que um bom líder tivesse que levar cachaça para a aldeia. Edemilson Kanamari compartilhou como alguns brancos queriam corromper a sua liderança oferecendo dinheiro para pescar dentro da área indígena.

A partir dessas duas experiências foram encenadas apresentações. Outras apresentações de grupos sobre características de diferentes tipos de líderes foram desenvolvidas com muita competência e com muito senso de humor, por exemplo, a caracterização de um líder “papagaio” que dá palpite em tudo, um “sabe-tudo”, um sensível “galo garnizé” que adora brigar, um indiferente “bicho-preguiça”, um pessimista, um político, um paternalista e um democrático. Dedicou-se um bom tempo à explicação do surgimento das associações na história da humanidade e da importância de uma associação dentro um contexto democrático com vários grupos de interesse.

Foi utilizada uma cartilha produzida pelo CIMI de Tefé como subsídio orientador. A participação de todos os presentes, inclusive dos mais tímidos, de seus relatos e a troca de conhecimento foi fora do comum e enriqueceu a oficina. Na maneira de apresentar os trabalhos de grupos percebeu-se que os assuntos foram bem absorvidos. Por outro lado, como indicador na avaliação de 90% dos participantes constatou-se a solicitação de mais outras oficinas.

Emocionantes foram as palavras do conselheiro Kavarivi Deni, do Distrito Sanitário, mostrando um jornal dos anos 80 com um artigo sobre a exploração dos Deni pelos patrões no tempo da borracha. Naquele tempo os Deni compravam 2.500 paneiros de farinha de mandioca e ficavam sempre devendo. Hoje em dia os Deni vendem farinha para os brancos. Um líder Deni resumiu: Estamos nos preparando para assumir nossa associação sem precisar da ajuda direta do branco. Assim que isso acontecer CIMI, COMIN e OPAN podem ir trabalhar com outros parentes que os precisam mais do que nós.

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