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Curso de saúde da mulher indígena e medicina tradicional na aldeia Morada Nova, Terra Indígena Deni, rio Xeruã, Itamarati-AM

Curso de saúde da mulher indígena e medicina tradicional na aldeia Morada Nova, Terra Indígena Deni, rio Xeruã, Itamarati-AM
5 de janeiro de 2009 zweiarts

A coleta nacional de 2008, dos membros da IECLB para os campos do trabalho do COMIN, possibilitou a realização de um curso de saúde da mulher indígena e medicina tradicional na Aldeia Deni Morada Nova, rio Xeruã, município de Itamarati-AM, nos dias 16 a 22 de novembro de 2008.

Pela primeira vez houve a presença de parteiras e aprendizes à função de parteira dos povos Deni e Kanamari. 53 indígenas de seis aldeias participaram do curso. Os homens estavam em minoria. Seis Agentes de Saúde Indígenas, na função de assistentes de partos, e sete professores na função de tradutores e algumas lideranças representaram os homens indígenas.

O COMIN convidou a enfermeira, irmã franciscana e coordenadora da Pastoral da Criança de Carauari-AM, Márcia Devina Borges e a também coordenadora e presidente do Conselho Municipal de Merenda Escolar, Josefa Terezinha Ribeiro da Silva para ministrar o curso.

O curso iniciou com a constatação da importância da saúde da mulher indígena e do trabalho das parteiras indígenas com as palavras da enfermeira Márcia: “O útero materno é como a mãe terra, acolhe a semente, germina, cresce, nasce, entrega gratuitamente ao mundo, para que inicie uma novo ciclo de VIDA”.

Foi feito um resgate histórico da origem e importância da parteira na vida da aldeia. Segundo a palestrante Márcia “as parteiras têm olhos de mãe”. Após a apresentação dos grupos, iniciou-se o estudo do corpo humano feminino, desde a concepção até o parto. Foram simuladas situações de partos complicados, onde a parceria de parteiras e profissionais de saúde é de suma importância para salvar vidas. Houve troca de experiências e conhecimentos de ervas que ajudam nestas situações. A sabedoria e experiência das parteiras indígenas Kanamari e Deni surpreendeu a todos. Usa-se, por exemplo, cinza de casca de certas árvores (como anti-inflamatório), depois do corte do cordão umbilical.

As parteiras souberam enfrentar as simulações dos partos difíceis e souberam também das suas limitações em casos extremamente difíceis e sabem que precisam, nestes casos, dos profissionais de saúde, tanto dos Agentes de Saúde Indígena quanto dos profissionais da equipe da FUNASA.

Uma tarde foi especificamente destinada ao estudo das doenças que mais acometem as aldeias, as suas causas e o uso de ervas medicinais (nestes casos). Todos os participantes foram unânimes: A doença com maior freqüência na aldeia é a diarréia. É a doença que mais mata crianças. 80 % das doenças podiam ser evitadas se fossem eliminadas as causas da doença: água poluída, higiene e limpeza em geral na aldeia.

Uma equipe do INPA de Manaus, um amigo do círculo dos amigos do trabalho com os Deni da Alemanha e mestres de obra de Carauari implantaram, durante o curso, um sistema de desinfecção de água potável do igarapé da aldeia, através de uma lâmpada de raios ultravioletas e de uma bomba d’água, ambos movidos a energia solar. Amostras de água do igarapé com e sem tratamento foram mostradas aos participantes do curso. A água do igarapé sem tratamento é extremamente poluída. A água que passou pela lâmpada de raios ultravioletas erradicou os microorganismos em 100%.

Um dia foi reservado para a fabricação de alimentação enriquecida, a multimistura da Pastoral da Criança. A multimistura foi adaptada à região dos indígenas, com o uso de espinhas dos peixes pacu e sardinha, secadas, torradas e moídas, em substituição à casca de ovos (para obter o cálcio).

A integração do grupo e a excelente participação das mulheres foi enriquecedora e gratificante para todos e todas. Foram dias de intensa troca de informações onde todas e todos saíram com uma certeza: O que nos une é independente de povo e de etnia: é a “Luta pela VIDA”.

A parceria do COMIN com a Pastoral da Criança está dando certo e as mulheres indígenas querem outro curso, para continuação e aprofundamento, em 2009.

O COMIN e os Deni agradecem aos membros da IECLB pelas ofertas e o apoio ao trabalho com povos indígenas e agradecem à equipe da Pastoral da Criança, que faz um trabalho voluntário tão importante.

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