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Assembleia do Povo Deni Firmeza na Organização e Defesa da sua Terra

Assembleia do Povo Deni Firmeza na Organização e Defesa da sua Terra
27 de agosto de 2009 zweiarts

Nos dias 8 e 9 de agosto de 2009 realizou-se a IV. Assembleia da Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX), na aldeia Boiador / Rio Xeruã-Itamarati-AM. Aproximadamente 400 pessoas compareceram. Conforme o Estatuto da Associação, todos os Deni, a partir de 16 anos, são membros da associação com direito a voz. 137 Deni, representantes de quatro aldeias, são membros efetivos com direito a voto e voz. Hoje vivem nas quatro aldeias Deni do rio Xeruã 606 pessoas. Os Kanamari das três aldeias do rio Xeruã se fizeram presentes com aproximadamente 150 pessoas, como ouvintes, colaborando com 150 kg de peixe seco, nas pescarias e no serviço de cozinha. Participaram como convidados o chefe de posto da FUNAI de Eirunepé, o secretário de esporte da prefeitura de Itamarati-AM, representando o prefeito, e um vereador deste município. Além disso, se fizeram presentes a enfermeira-chefe do pólo-base de Morada Nova / Carauari-AM da FUNASA, representantes do CIMI de Tefé-AM, representantes da OPAN e do COMIN de Carauari-AM.

A assembleia deu um voto de confiança à diretoria e mostrou a união do povo Deni do rio Xeruã para alcançar melhorias na sua vida. A ênfase de todos foi o fortalecimento da organização do povo a respeito da defesa e preservação da sua terra. Palavras-chave de todos foram “vatura” – com calma, passo a passo – e “tukhiraria”- a união de todos. Os Kanamari do rio Xeruã aproveitaram o espaço da assembleia para expressar os seus anseios para alcançar melhorias em sua vida. Eles querem aprender com os Deni para que possam futuramente fundar sua própria associação.

O tuxaua Hamu da aldeia Boiador, anfitrião da IV. Assembleia deu as boas-vindas a todos. Uma enorme casa comunitária foi erguida pelos Deni da aldeia Boiador, com o apoio do COMIN, especialmente para a assembleia. A presença e participação dos tuxauas Deni foi importante. Os tuxauas lembraram que eles são responsáveis pela abundância da comida, por ter roçados suficientes, pelas festas, pela boa convivência de todos e para que o povo Deni não esqueça a sua própria cultura. As mulheres Deni mostraram sua força com discursos emocionantes, dando apoio ao trabalho da associação para que ela continue os trabalhos com transparência. Essa transparência ficou bem visível no relato do presidente e na prestação de contas do tesoureiro da Associação. A representante das mulheres, Tabaha Deni, deu um recado a todos: “A associação vai bem. Vamos ajudá-la. A nossa vida já melhorou muito. A nossa associação não pode errar. Se não cuidarmos da nossa terra teremos aqui futuramente uma cidade”.

O presidente da Associação, Vabishi Varasha Deni, recebeu votos de confiança de todos durante seu relatório, em que alguns poucos Deni queixaram-se de incompreensão, pois queriam ver mais ações concretas. A maioria dos participantes da assembleia foi unânime: “Vamos devagar e vamos ficar unidos ajudando os que representam o povo Deni na Associação!”

Um ponto alto da assembléia foi a discussão sobre a preservação e vigilância da terra Deni. Quando os vigias Deni, que se revezam no flutuante na boca do rio Xeruã, fizeram suas explanações, falando sobre o trabalho e os problemas que enfrentam, constatou-se que muitos vigias tinham desistido do trabalho. A vigilância não parou, mas às vezes havia somente um vigia por aldeia. A discussão sobre a vigilância mostrou que todos os Deni estão conscientes da importância da defesa da sua terra. Biruvi Deni resumiu: “Temos que cuidar e preservar a nossa terra para nós, nossos filhos e netos viverem bem”.  Uma decisão importante foi tomada e aprovada: Foram eleitos novos vigias, cinco de cada aldeia, que vão atuar ao lado de alguns experientes de anos anteriores. Todos expressaram a sua alegria com a disposição destes novos vigias que foram muito aplaudidos. Kuraci Deni lembrou: “A terra aqui é nossa, é dos Deni, não é dos brancos, não é do CIMI, da OPAN, do COMIN. Eles vão embora um dia. Mas nós ficamos. Cuidar, preservar a terra é nossa responsabilidade!”

Outra decisão importante foi tomada: Cada membro efetivo de cada aldeia Deni vai colaborar com a venda de farinha para pagar despesas bancárias e outras despesas da Associação. Os professores, Agentes de Saúde e os que recebem dinheiro de outras fontes vão colaborar com contribuições para que a Associação possa trabalhar melhor com dinheiro oriundo dos próprios membros. O dinheiro de duas sacas de farinha de duas aldeias Deni já foi depositado logo após a assembleia.

Os meliponicultores, artesãos, farinheiros, mecânicos e construtores de canoas fizeram seus relatos. Os Agentes de Saúde Indígena (AIS) elogiaram o trabalho da FUNASA, que melhorou muito do ano passado para cá.

As parteiras que participaram do curso da Pastoral da Criança do ano passado querem ajudar os AIS que normalmente não ficam para o nascimento de uma criança que acontece, às vezes, longe da aldeia e de homens, conforme a cultura Deni. A parteira, Vanaha Deni resumiu: “As crianças não podem nascer escondidas”.

Os Agentes Ambientais Voluntários relataram que estão cumprindo seu papel. Os Deni estão marcando as praias para preservar os quelônios, vigiando os lagos com os pirarucus para o futuro manejo e cuidando da limpeza nas aldeias.

Os professores Deni levantaram a questão da merenda escolar que não chega há cinco anos nas aldeias. Os representantes da prefeitura de Itamarati levaram uma carta assinada por todos os participantes da assembleia para a Câmara de Vereadores e para o prefeito denunciando a situação. Dois dias depois da assembleia já foi mandada a merenda escolar que não vinha há anos. Foi feita também uma carta pedindo da Secretaria de Educação Municipal de Itamarati a contratação de um coordenador indígena na secretaria substituindo o atual, que não trabalha satisfatoriamente.

O novo chefe do posto da FUNAI de Eirunepé, Paulo Rodrigues Hayden, recebeu uma carta dirigida à presidência da FUNAI, exigindo um posto da FUNAI em Itamarati-AM. Neste município vivem atualmente aproximadamente 900 indígenas Deni, Kanamari e Kulina. Paulo Rodrigues Hayden relatou o que fez nesta região que ainda é muito esquecida pelas autoridades governamentais. Muitos documentos foram tirados nos últimos meses com a ajuda dele. Paulo se comprometeu a exercer o papel da FUNAI como órgão fiscalizador em todas as áreas para que os indígenas sejam reconhecidos como cidadãos plenos e se organizem para ter cada vez mais autonomia.

A IV. Assembleia Deni mostrou o amadurecimento da Associação, a união do povo em prol da preservação de sua terra e o orgulho de ter uma associação que funciona bem e tem força para representar o povo Deni.

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